domingo, 1 de junho de 2014

QUEM É?


QUEM?

Não sei quem adiante segue acenando e insistentemente chama por mim. Um vulto feminino, apenas um vulto feminino vejo com um lenço branco na mão agitado, insistindo para que eu vá a si pelo caminho que ela sugere. Mas por quê? Há tempos a venho seguindo, mas ela nunca está quando dela me aproximo; e até me parece fugir!

Quem afinal me chama e esta chama acende e me obriga a segui-la por essa via, sem saber quem é nem pra que me encaminha?

Não, não sei! Mas arde na alma um fogo se não vou, desce-me dos olhos um fluido incendido se não olho; mas não sei quem me chama e que à chama acende e ao meu caminho vai iluminando!

E esse  fogo arde tão fundo! E quem afinal é ela que me acena com o lenço branco? Saberá quanto arde o meu anseio? Não responde quando chamo por ela, por andar lá bem à frente e mal olhar para trás. Mas eu sigo-a e a trilha do vento suave assoprando o seu perfume, me mostra o caminho.

E descubro novas formas concretas e abstratas enquanto vou em frente, e tantas e tão belas coisas nunca vistas antes!

E é assim que vou a quem não sei que me chama, e nunca está quando eu chego! E também ao chegar, se chegasse, talvez aí nada encontrasse que pudesse fazer de aí um lugar, um fim, ou começo! Apenas um estado vago onde não há o que se possa apalpar, e se não for aí sequer a ilusão do tempo, o que haveria para tocar?

Mas eu vou seguindo iludido de que além de mim há qualquer sim ao chegar, ainda que, como não haja saída nem entrada, como seria então uma estrada? Ainda assim ao ver passar por mim o que daqui sem ser nada além segue em frente, muitas dúvidas suscita: se aí vai a vida renovada, ou é ilusão e nada é nem eu sei nada?

Mas nela, que me acena de passagem e segue de lenço branco lá na frente, ainda que de soslaio, eu vejo o olhar da esperança! E eu sigo essa ilusão, seja ela até um canto vão, mesmo que ao chegar seja apenas uma miragem.

Pois sempre vale a pena ir de mim no agora, por haver no ir um começo e no fim, mesmo sem chegada, parto de mim para fora.

E olhando em torno a quem por perto segue sem destino como eu, em meu cotejo mental, que não há estradas pelo mar, vejo que há em todos algo no rosto escrito a revelar que o novo é completamente mau por ser desconhecido...

Mas como tudo passa, quem vai e quem fica, vale o que em graça sorri e beatifica e nos faz caminhar.

E o sonho? O que é o sonho além de uma falsa escada? Ainda assim vale a pena sonhar, mesmo que nada fique de pé depois da gente acordar, e “vale o que sorri, celebra e consagra”.

E se tudo o que é, é o caminhar, melhor que não se leve nada, pois sendo uma estrada vale a pena ir por ela, e o que se leve mesmo não levando nada, é o embrião de um destino.

Já não caminhei e aí ficando não encontrei nem o que não buscava e tudo passava tão depressa, que o que encontrava não vingava e não chegou a ser sequer uma ilusão, muito menos uma promessa.

Fui já antes de malas prontas e até cheguei onde queria, mas ao chegar lá nada havia, e a nada também aí encontrava. 


Então sigo o horizonte, que esse nunca está mesmo quando eu chego; e ao que eventualmente toco com as mãos deixo para trás aliviado de seu peso, pois a natural sentir alivio daquilo que não se carrega.

Nenhum comentário:

Postar um comentário