quinta-feira, 5 de junho de 2014

HORIZONTE


Todos os objetos ao alcance de minha percepção adquiriram um tom muito escuro, perderam os contornos que definiam as formas agradáveis e as cores desbotaram.

Em meio ao caos do panorama mundial, a única visão deveras esperançosa passou por mim ainda há pouco no olhar inquietante de uma criança.

Querendo-me dizer alguma coisa, olhou-me sorrindo; mas atrás daquele sorriso inocente vi um infantil desassossego, que uma alma adulta de formação ocidental como a minha talvez tenha dificuldades para compreender.

Ante este infantil olhar tendo por trás como pano de fundo o estranho quadro do mundo, apequeno-me estarrecido a perguntar: onde teria ido parar a razão e a caridade? Temeroso, onde encontrar a esperança?

No âmago da minha pessoal pretensão já não tem importância a minha inquietude nem desejo coisas, e o meu tempo de vida e a ilusão são já muito modestos em longitude; mas a civilização ocidental é ainda jovem e passa por um momento de insanidade coletiva, onde as pessoas realmente preocupadas com os valores morais trazem abafadas as suas vozes.

Certamente isto passará, mas quantas vidas isso já custou e ainda poderá custar? E quantas chagas na alma e distorções na personalidade da consciência coletiva isto corromperá? Que o retorno ao equilíbrio voltará sim voltará, mas não demore, que uma profunda contaminação pode atingir os já poucos ambientes sadios e as águas poluídas engolir o terreno ainda sadio e fértil.

Parece que de fato são chegados os tempos esperados, mas não deveria ser desta triste forma envolvendo crianças!

As alternativas reduziram-se a duas correntes perfeitamente delineadas na base da pirâmide. De um lado uma multidão correndo atrás da comida e da salvação, sem saber do que se salvará; e do outro lado outra metade em sofreguidão acumulando bens perecíveis, muitos roubados do povo pelos simulacros de presidentes, com que pensam construir altas muralhas a fim de proteger-se atrás delas.

O meio pelo qual adquirem os seus bens, não vem ao caso comentar, todavia raros são aqueles por meios lícitos e honestamente adquiridos quando políticos.

Felizmente ainda existe uma elite espiritual, muito bem preservada das tormentas, é claro que existe! E em último caso os seus membros servirão de semente para uma nova civilização; mas a inquietação é grande, porque são poucos e até se podem contar nos dedos de meio milhar de mãos, e até dentre estes no caso brasileiro, um ou outro faz o jogo do traidor!

Ainda bem que a vontade destes gigantes mentais é muito poderosa e produz admirável corrente espiritual! E o melhor de tudo é que se escondem no meio da multidão e não trazem marcas na testa! Podem proteger-se também porque aprenderam a arte da mística proteção, que os malfeitores da vida não conhecem!


E também há de ainda prevalecer até entre os mais rudes um frágil sentimento de amor às crianças, pois elas haverão de ajudar a salvar o mundo e a repovoar a terra de boa semente, juntamente com as almas simples, que não acumulando pesos de nenhuma ordem pairam acima da superfície caudalosa das águas contaminadas.

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