Sentimentos Oblíquos
Tivera eu um dia Mestres, diria hoje que eles me abandonaram. E não
estou plagiando a Mestra H.P.B., mas por andar completamente abandonado e longe
de tudo que me fora um dia caro e sagrado. Meus amigos se esqueceram de mim,
meus parentes já nem ligam mais; ainda bem que estas coisas não me causam emoções
trágicas nem derrotas.
Embora também não comemore vitórias, porque não tive grandes vitórias,
sendo estes momentos recordações profundas de boas emoções, não necessariamente
de tristeza ou de alegria. Nenhum sentimento oposto entre bom e mau abala este
meu ser estático semelhante a uma pedra
mole a meio ser, que vive meia vida, muito distante do que creio seja um
estágio superior de existência metafísica.
Como, por exemplo, aquele estágio vibratório aonde os iniciados vão
pairando serenamente acima das emoções e dos pensamentos concretos. Mas, como a
tal estágio nunca fui, não sei se valerá à pena ir lá.
Tenho dúvidas se o estado expande a consciência além do êxtase
momentâneo, ou se traz algum acréscimo duradouro ou permanente à evolução
individual quando do “chá”, por exemplo. Eu, pessoalmente isento de um sentir metafísico
não penso com grande seriedade nem exercito a minha mente abstrata por estar na
concreta. E devido minha vontade relegada a um estado involuntário, quase dessa
não faço uso para nada. Vegeto na maior parte do tempo a inteligência, no sentido
mais próximo do termo vegetar; e é assim que relativamente vivo. Embora
distante de um bem viver medianamente humano, mas não posso dizer que não vivo,
mesmo que distante dos padrões humanos de uma boa vida bem “regada”.
É evidente que não gostaria de prolongar este estado e desejo mesmo
sair dele para entrar em sonho, mas não quero delegar-me essa competência. E à
morte, que nem creio trágica, apesar do pavor que provoca quando chega,
respeito a sua vontade, quando acredito que dela decorra um perfeito estado de
liberdade, pela ausência.
Em primeiro lugar ausência de peso e demais decorrências dele, enquanto
característica material do corpo; e, também por não mais existir um cérebro a
processar pensamentos e sensações que podem ser até de medidas e pesos, restando
nessa altura apenas a memória astral.
Em razão disto, imagino-a agente de um estado perfeito de liberdade e
relativa independência pela leveza e libertação da vida enfadonha quando presa
à carne, da qual só nos libertamos com a ruptura do segundo cordão, dito astral
ou de prata...
Entretanto é indispensável à evolução viver na carne tendo com síntese
o cérebro e neste os neurônios, conquanto devesse sê-lo só até determinado
momento, enquanto nos conviesse; mas porque não nos caiba decidir, vai-se ficando
dentro desta caixa de carne.
O Problema é quando o mundo se descolore, o olfato vacila em distinguir
perfumes de odores do tédio, pois aí já será preferível partir!
Quando a vontade motora alimentada pelo entusiasmo adormece, não seria
bom que as demais funções também adormecessem, para não contrariar a natureza nem
provocar conflitos?
Lutar tremendamente despendendo ingente esforço, a fim de vencer a
barreira entre a vida e a morte e viver, dizem ser a vitória da vida. Embora
seja possível só a vitória da vida física, pois não restam dúvidas de que a
vida prosseguirá sua longa caminhada metafísica, caso derrotada a vida material
e sobrevenha a morte. E ainda que naquele estágio pós-corpo não haja evolução,
constituir-se-á em repouso necessário antes da próxima etapa, de novo sangue e
de novo entusiasmo.
Conquanto meu estado neste estágio vegetativo com tempestades
emocionais deve-se unicamente aos gases entorpecentes, causados pela falência
das instituições políticas, que aos seus representantes não resta mais que os
estertores agônicos da morte de todas as ideologias morais e éticas, e a
falência de todas as funções baseadas outrora nos predicados da honra, conferem
agora e fazem com que exale desses senhores toxinas e veneno que entorpece e
faz moribunda a evolução; e porque não encontrem em suas cinzas sequer argumentos
com os quais alimentem a boa palavra, continuam exalando veneno pelas palavras
mortas, para darem curso a uns sons estranhos, que urram pelas sua bocas porcas.
Por isso e por amor se despetalaram todas as minhas flores; e não é
possível sem o seu perfume ensaios de poesia, nem ensaios de vida e muito menos
de arte. Encerrou-se também o tempo do bom combate; combater agora plagiaria a
obra dos bons combatentes e talvez se convertesse em vez de combate em roubo e
plágio de alguns moinhos de vento!
Nenhum comentário:
Postar um comentário