quinta-feira, 22 de maio de 2014

RETICÊNCIAS II


Se a cantar, que é motivo de alegria se chora tanto, como não se há de chorar quando realmente estamos profundamente tristes e dolorosamente sofremos?

Pensemos bem: quando a cantar acontece esse modo de sofrer, naturalmente quando se chora nas festas, não é de supor-se, por um raciocínio simples, que se pode morrer de tanto chorar quando sofremos? Talvez até não se morra, porque vivemos uma inversão total de valores e se chora com lágrimas de crocodilo! E também muitas vezes acometidos de uma boa dose de masoquismo nem sabemos por que sofremos! Mas é natural que nessa inversão de valores em vez de se beber um bom vinho da melhor safra, se beba qualquer vinho ruim bebendo-o por bom!

Mas se afinal valorizarmos só as piores castas de uva jogando fora as melhores e com elas o melhor da vida, de tal maneira desprezamos o fruto da árvore da boa geração, desprezamos a boa convivência e a boa educação, ao fim e assim jogamos fora a real essência da vida.

E daí surge o mito e tememos a maçã proibida, temendo ser pecado desprezamos o beijo da mulher amada, e à melhor bebida guardamos como sagrada em vez de bebê-la, e assim não se dá alegre sentido à lida: e então o bom queijo que muito bem combina com um vinho, a flor mais bela e a melhor comida, e se a alegria e o prazer desprezarmos embebidos em trágica e inútil agonia de nossas quimeras, morremos!

Mas ainda assim rimos sem graça nenhuma à noite, e como pobres desgraçados, sozinhos, no dia seguinte choramos como as crianças abandonadas estranhando o dinheiro falsificado? Mas como num país desgovernado, com pessoas sem moral, sem ética comandando a nação ao caos podemos estranhar o dinheiro falsificado?

E então? Se a cantar choramos por faltar-nos a vontade primária de mudar o nosso destino nacional, como haveríamos de rir quando sofremos com os nossos desatinos? Pobres e desatinados, meio insanos sofrendo por nossos desenganos, por que afinal riríamos se deveríamos chorar aos cântaros pelas desgraças em que votamos?

E isto tanto vale para o dia quanto pra noite quando se toma umas cachaças, quanto no modo aparentemente certo; mas sincero não, que não há gesto sincero de nenhum que se apresentou para ser votado, dita as regras e serve de modelo a quem não pensa por si, e por isso nenhum voto que se lhe deu foi honrado!

Mas continuamos rindo mesmo depois que sufragamos a sorte nossa e do povo, na mesma garrafa que jogamos fora com a melhor bebida às gargalhadas.

E porque andem sem letras os iletrados, não tenha vergonha na cara o cara, é assim que à pior das castas guardamos e ora o melhor da espécie jogamos fora; tanto na urna virtual quanto na eletrônica. Isto, porque, se a cantar é isto, imagine-se quando se chora? 

RETÓRICA
A grande genialidade da palavra é ela não ter genialidade nenhuma quando separada e fria; ou até às vezes em poesia ou prosa, puramente humanas a recitar dramas meramente trágicos. E por certo reles será essa palavra se não contiver relação com o todo universal em alma e essência, e como pode aí ser poesia concreta demasiadamente concreta genialmente humana?

Mas por que falar de poesia, se a palavra em si composta por letras numa formação genial olhada com respeito, é muito mais universal que a poesia! Em qualquer análise sintática de uma construção concreta teremos ainda que em forma de poesia elementos rudes, duros, juntos com palavras numa construção, que se fosse feita só de elementos etéreos e abstratos ninguém veria!

Todos os pensamentos deveriam ser expressos em vocábulos audiovisuais, e serão, um dia, mas nem todas as palavras são dignas de serem ouvidas ou lidas.

Nesse caso ouvir constitui-se então no melhor predicado humano favorável à construção de si próprio, em vez de falar, que serve só para construir frases aparentemente elegantes, mas só para se tornarem maiores que as palavras, estas maiores que as sílabas, que por sua vez são maiores que as letras!

Afinal, geniais, quais construtores de livros? E sendo os livros os países das palavras até se compreende porque há países muito ricos e países muito pobres, senão miseráveis!

Embora alguns dos mais pobres exportem muitos exemplares! Sinal de que a exportação revela a pobreza global.

Pena que por trás deles estejam os homens que não deveriam escrever nem governar e escrevam e governem!  Muitas pessoas que me lêem devem estranhar porque repito tanto esta crítica. É porque essas aberrações continuam crescendo! 

Mas, felizmente, por trás destes falsos profetas das palavras, outros também escrevem grandes e bons livros. Por isso é que a genialidade reside entre os dois momentos poéticos: bons e maus livros. O que não vale para o governo atual, por motivos óbvios de tábua rasa e de palavra rude, aonde até a inocente língua, vai sepultando aviltada!

Infelizmente não só a língua por eles arrasada vai sendo enterrada em cova rasa, mas também enterram os valores éticos e morais que com ela foram assinalados em tratados memoráveis, e a sua alma são os versos, as palavras geniais, a cultura, a cor, o sabor, a arte e o dom de ser uma nação original e digna, mas também agora no país do futuro até à nação se enterra em cova funda.


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