Se a cantar, que é motivo de alegria se chora tanto, como não se há de chorar quando realmente estamos profundamente tristes e dolorosamente sofremos?
Pensemos
bem: quando a cantar acontece esse modo de sofrer, naturalmente quando se chora
nas festas, não é de supor-se, por um raciocínio simples, que se pode morrer de
tanto chorar quando sofremos? Talvez até não se morra, porque vivemos uma
inversão total de valores e se chora com lágrimas de crocodilo! E também muitas
vezes acometidos de uma boa dose de masoquismo nem sabemos por que sofremos! Mas
é natural que nessa inversão de valores em vez de se beber um bom vinho da
melhor safra, se beba qualquer vinho ruim bebendo-o por bom!
Mas
se afinal valorizarmos só as piores castas de uva jogando fora as melhores e
com elas o melhor da vida, de tal maneira desprezamos o fruto da árvore da boa
geração, desprezamos a boa convivência e a boa educação, ao fim e assim jogamos
fora a real essência da vida.
E
daí surge o mito e tememos a maçã proibida, temendo ser pecado desprezamos o
beijo da mulher amada, e à melhor bebida guardamos como sagrada em vez de
bebê-la, e assim não se dá alegre sentido à lida: e então o bom queijo que
muito bem combina com um vinho, a flor mais bela e a melhor comida, e se a alegria
e o prazer desprezarmos embebidos em trágica e inútil agonia de nossas quimeras,
morremos!
Mas
ainda assim rimos sem graça nenhuma à noite, e como pobres desgraçados, sozinhos,
no dia seguinte choramos como as crianças abandonadas estranhando o dinheiro
falsificado? Mas como num país desgovernado, com pessoas sem moral, sem ética comandando
a nação ao caos podemos estranhar o dinheiro falsificado?
E
então? Se a cantar choramos por faltar-nos a vontade primária de mudar o nosso
destino nacional, como haveríamos de rir quando sofremos com os nossos
desatinos? Pobres e desatinados, meio insanos sofrendo por nossos desenganos, por
que afinal riríamos se deveríamos chorar aos cântaros pelas desgraças em que
votamos?
E
isto tanto vale para o dia quanto pra noite quando se toma umas cachaças, quanto
no modo aparentemente certo; mas sincero não, que não há gesto sincero de
nenhum que se apresentou para ser votado, dita as regras e serve de modelo a
quem não pensa por si, e por isso nenhum voto que se lhe deu foi honrado!
Mas
continuamos rindo mesmo depois que sufragamos a sorte nossa e do povo, na mesma
garrafa que jogamos fora com a melhor bebida às gargalhadas.
E
porque andem sem letras os iletrados, não tenha vergonha na cara o cara, é assim
que à pior das castas guardamos e ora o melhor da espécie jogamos fora; tanto
na urna virtual quanto na eletrônica. Isto, porque, se a cantar é isto,
imagine-se quando se chora?
RETÓRICA
A
grande genialidade da palavra é ela não ter genialidade nenhuma quando separada
e fria; ou até às vezes em poesia ou prosa, puramente humanas a recitar dramas meramente
trágicos. E por certo reles será essa palavra se não contiver relação com o
todo universal em alma e essência, e como pode aí ser poesia concreta
demasiadamente concreta genialmente humana?
Mas
por que falar de poesia, se a palavra em si composta por letras numa formação
genial olhada com respeito, é muito mais universal que a poesia! Em qualquer
análise sintática de uma construção concreta teremos ainda que em forma de
poesia elementos rudes, duros, juntos com palavras numa construção, que se
fosse feita só de elementos etéreos e abstratos ninguém veria!
Todos
os pensamentos deveriam ser expressos em vocábulos audiovisuais, e serão, um
dia, mas nem todas as palavras são dignas de serem ouvidas ou lidas.
Nesse
caso ouvir constitui-se então no melhor predicado humano favorável à construção
de si próprio, em vez de falar, que serve só para construir frases aparentemente
elegantes, mas só para se tornarem maiores que as palavras, estas maiores que
as sílabas, que por sua vez são maiores que as letras!
Afinal,
geniais, quais construtores de livros? E sendo os livros os países das palavras
até se compreende porque há países muito ricos e países muito pobres, senão
miseráveis!
Embora
alguns dos mais pobres exportem muitos exemplares! Sinal de que a exportação
revela a pobreza global.
Pena
que por trás deles estejam os homens que não deveriam escrever nem governar e
escrevam e governem! Muitas pessoas que
me lêem devem estranhar porque repito tanto esta crítica. É porque essas
aberrações continuam crescendo!
Mas,
felizmente, por trás destes falsos profetas das palavras, outros também
escrevem grandes e bons livros. Por isso é que a genialidade reside entre os
dois momentos poéticos: bons e maus livros. O que não vale para o governo atual,
por motivos óbvios de tábua rasa e de palavra rude, aonde até a inocente língua,
vai sepultando aviltada!
Infelizmente
não só a língua por eles arrasada vai sendo enterrada em cova rasa, mas também enterram
os valores éticos e morais que com ela foram assinalados em tratados memoráveis,
e a sua alma são os versos, as palavras geniais, a cultura, a cor, o sabor, a arte
e o dom de ser uma nação original e digna, mas também agora no país do futuro até
à nação se enterra em cova funda.
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