É provável e absolutamente possível que eu seja famoso só depois de morto. Não porque meu trabalho e minha arte sejam extraordinários, segundo minha própria avaliação, que a da critica ainda não tenho, mas porque estarei morto, apenas por isso, caso ela venha a se tornar pública. E como é de costume, e já aconteceu com o maior poeta português que não teve uma mortalha digna em sua morte.
Mas
é muito estranho que os invisíveis artistas que estão sempre na mídia vendem
tanto em vida a sua “arte”, que algumas outras passam completamente despercebidas!
Será por falta de medida ou cor da “arte dos imortais invisíveis”, embora esses
nem estejam mortos! Apesar de que, quando morrem toda a sua “arte” já morreu,
por ter nascido morta, mas mesmo morta como vende! Em todas as formas e até como
palavras que não dizem nada, ensaiam tão profundas sentenças ocultas que os
seus místicos leitores desvendam, que mais do que leitores se revelam arqueólogos!
Não
sei como, mas na mais espetacular magia magos escritores escrevem metáforas
ocultas com letras apagadas, e seus místicos leitores obram o milagre de fazer
vivas palavras mortas, sublinhadas a negrito.
Contudo
e não obstante se vão das verdadeiras letras apartados, valendo este jogo de
palavras, pois não ouso revelar o nome de nenhuma caça, mas o bom caçador de
palavras ocultas saberá levantar a lebre, muito caçada parente da palavra chave
oculta, que dá nome ao objeto do bom caçador de palavras ocultas.
Já
minha a arte à qual não tenho receio de chamar arte por falsa modéstia, tem o
raro privilégio de nascer da singularidade de minha alma. E da minha alma livre,
sem amarras de natureza nem de estilo acadêmico, porém feita com todo o rigor
Lusitano, pelo qual sou totalmente livre e refratário a todas as regras e
limites artísticos e sem artifícios, sem me atrever arauto de um trato rigoroso
da castiça da língua, mas em pleno uso de um “desenrrascanso”.
E embora
dela seja mesmo um amador tendo, todavia profundo respeito e admiração por sua beleza,
por sua culta e elevada expressão, que dela fazem os grandes obreiros da
palavra, tanto os de cá quanto os de lá, os que se já se foram e os que ainda virão...
Confesso ser luso até a medula, não por
marinhar com maestria a língua, mas por rebeldia. Mas reconheço ter sido
aplacada a indomável rebeldia lusa pela leveza da brisa tropical brasileira. Na
mesma medida em que afeiçoado à sua gente posso sem pedir permissão dizer, que
é hoje a “minha querida gente” da qual orgulhoso ouço com alegria a sua espontânea música, cadenciada na nobre alma do Tupi, cujo fulgor reflete o
indomável espírito Lusitano nela suavizado e fortalecido com arcaica e aqui renascida vergôntea
africana, pronta e magnífica taça para receber todas as raças.
Ah que resultado magnífico! Ao congregar
todas as cores deu-nos este maravilhoso povo, de agora e do futuro! Naturalmente
chegado, presente e com certos predicados, visivelmente ausentes em outras
castas!
Embora
isto não tenha nada a ver com o assunto da minha arte, “este” é o espírito dela.
Pois neste bendito solo a exerci e continuo a exercê-la, e o sangue luso em
minhas veias da bendita água brasileira recebeu juntamente com o bendito ar que
em meus pulmões entra e sai, e até uma bendita cachacinha ora ou outra compõe a
química deste meu ser falador e fazedor de coisas e de arte. Mas que arte será
a minha? Seja qual for não é puro talento, mas talvez pela influência desta
magnífica terra, e desta maravilhosa gente!
Embora,
repito, quando eu morrer... Eu mesmo saberei melhor o que fiz por arte, e o que
andei por aí a viver. Seria bom
se fosse essa a verdade em negrito, e não apenas o grifo; mas depois de morto o
máximo que posso provocar é mau cheiro se não tiver mortalha digna e apropriada
para daqui ir-me ao pó.
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