sexta-feira, 23 de maio de 2014

CONVERSA NUMA SÓ VIA


- Porque Sete, meu bom senhor, é o carro da lei do qual dizem ser o condutor da evolução?”
Desdenhando e presunçoso, perguntava o jovem aprendiz de maçom ao velho Teósofo. Este, calmo e pausadamente olhando o horizonte, lhe respondia:

- Unitária na pauta e dentro da harmonia, do ritmo e da melodia com base nas sete notas, havendo talento para escrevê-la, criar-se-á divino som e divina música; da mesma forma que o Supremo Arquiteto do Universo elo e elemento da unidade manifestada na trindade e pela ordem seguinte setenária, assim criava o mundo, com tudo que nele vai dentro em concerto...

De modo que por essa e outras razões se compreenderá o Sete como sendo entre muitas outras coisas, também o carro da lei. E não terá dúvida de que das sete cores coloriu o mundo num sem fim de tons, criando a mais bela obra de arte, que ninguém ousa imitar.

Ou achas tu, meu carão jovem aprendiz, que com as tuas crenças ou segundo o sistema a que pertences que é capaz alguém de inventar ou mesmo ensaiar uma forma de vida? Ou que é mesmo possível ao homem brincando montar um carro alegórico no carnaval do tamanho do nosso planeta?

Os artistas bem que tentam, mas não é possível fazer nem mesmo uma obra de arte que arremede a criação; embora eles pintem, mas só em cenas ásperas e rudes. Naturalmente sujeitos às sete cores, até porque se não precisa mais do que essas!

- Isso é deveras muito bonito, - insiste o jovem - porém em nada prova ser realmente o Sete, poderia ser oito, seis ou qualquer outro número a representar o que a conduz, caso seja mesmo conduzida a evolução. Mas eu pessoalmente acredito que alguma coisa a dirige! De modo que puxar o carro da lei, como o senhor diz não se tem prova de ser isto ou aquilo a conduzir e a orientar a evolução com um número sete, por esse universo afora. Com ares de ironia, e rindo levemente desdenhando assim falava o jovem maçom aprendiz.

- A formação setenária comprovadamente manifestada em múltiplos exemplos, não está nem vai por aí no universo afora, estejais certo disto; e até nas imortais páginas da música podeis ouvi-la, na arte podeis vê-la, no tempo em milésimas frações, horas e anos podeis contá-la... Porque também segundo as crenças de todos os povos, Deus criou o mundo em sete dias; e no mito da Hidra de sete cabeças às quais teria Heracles de um só golpe cortado, de cujo episódio no que dizem as más e as boas línguas termos nós herdado os sete olhos, e não oito que seriam na verdade os sete sentidos, pouco importando se a tradição e a ciência humana contar apenas com os cinco, mas estes cinco sentidos são por enquanto.

Mas ainda assim o beneficio trazido por estes cinco, já agora vendo as coisas pelo lado prático, é tanto e tamanho devido trazerem as informações de fora para dentro... E para que tu compreendas o que eu digo, seria esta a ação e o exercício destes sentidos externos dos quais se despertariam os sentidos internos, ou não crês tu que existe o de fora, para existir o de dentro? E se ainda ora de apenas cinco se faça uso relativo, o sete é um padrão universal dentro de um processo maior, mas como o sistema das cores, das notas, dos dias da semana, das sete colinas de Roma, por exemplo. Se com uso precário de cinco sentidos faz o homem tantas maravilhas quando está de bom humor ou inspirado, imagina o que fará quando forem os sete em plena atividade?

Ah, homem de sete sentidos absolutamente desenvolvidos, que maravilha hás de ser! Bem, mas ainda sete, meu caro jovem, está representado nos sete candelabros do templo; ainda sete são os passos pelos quais sistemas universais em sete universos encerram a causa única, após um dia de Deus Trino que se divide em Sete, cujo tempo nem o mais megalomaníaco matemático ousa especular... Ainda sete, meu jovem aprendiz é tanta coisa, que nem imagina como será difícil para algum teórico materialista negá-la!

-Bela é a retórica! - intervém o jovem maçom – fascinante, até, porque é deveras bela, mas não me convence meu bom senhor, não me convence! Exclama meio ironizando, mas sem disfarçadamente deixar escapar que está satisfeito com a conversa; e também em forma velada, mas patente na expressão de seu rosto que ao velho ancião não escapa, mostrando o desapontado com os rumos seguidos pela instituição à qual pertence.

- Não condeno a retórica - torna o velho Teósofo - embora pessoalmente, devido o uso que dela se tem feito ultimamente, não a aprecie; e ainda que o que vamos discutindo lhe pareça essa forma, tenha a certeza de que não é! Porque o assunto que nos convém, seja o do carro e este carro não é um carro qualquer! E ainda que fosse uma fórmula um ou um disco voador para brincarmos de analogias, não seria nem pálida sombra a este Sete, porquanto se trate do carro da Lei abrigando em seu interior o universo, fruto dos Sete Primordiais Universos.

Aliás, carro e universo se confundem, sendo ora um que se encaixa em nosso tema universal, ora o outro com que se designa o Todo. E enquanto Carro e Sete serão Um entre os vinte e dois Arcanos Maiores, onde parece encerrar-se o trabalho dos Hércules, a história dos Cristos e dos Budas, ou o sacrifício das hierarquias.

Enfim, a história divina em vinte e dois grandes trabalhos cósmicos ou vinte e duas horas cósmicas, às quais se as desejares conhecer em profundidade terás que desvendar os mistérios da Cosmogênese. Pois é certo que só ali encontrarás respostas adequadas.

Mas não sei se tens notado, eu venho conversando em uma só via, enquanto tu indagas ou silencias; isto revela ansiedade que prende a língua, ou até um desejo disfarçado de aprender o que se pretende simular que se conhece, sem realmente se conhecer; o que por um lado é bom, pois de algum modo me reporta ao passado, quando a ânsia e tremenda pressa sufocavam-me também. E o desejo de entender o que nem era muitas vezes para entender, mas como se tratava de ansiedades filosóficas de caráter especulativo, às vezes se revelava até em asneiras!

- Diga-me então, amigo, - inquire o jovem maçom de olhar longínquo, como se fitasse o horizonte – se eu bem compreendi o sentido da “hora cósmica”, seria uma destas horas o florescimento completo de um reino? E aí eu lhe digo, caso seja congruente a minha pergunta, eu começo a desvendar o mistério; e até posso adiantar que uma leve satisfação começa apascentar um pouco a minha ânsia; e neste estado a primeira coisa lúcida que me ocorre é que o universo, atrás do qual está Deus, é demasiadamente grande para qualquer um o desvendar! Que dirá revelá-lo, principalmente por quem a todo o momento em vão e em seu nome fala e profana!

Mas até esta profanação tem agora outro sentido, porque são deveras muito miúdos os que o fazem, para o atingirem com suas bobagens e crendices. Diz o jovem, já agora com certa euforia e sinceridade no tom das palavras. 

- Horas cósmicas ou reinos, meu bom aprendiz de pedreiro, entendam-os como aqueles conhecidos pela ciência como sendo os reinos da natureza, tais como o mineral e o vegetal... E o animal em duas grandes vertentes, que a toda a família congrega desde a ameba ao rei leão, desde o rei leão aos mais elevados seres que aqui um dia pisaram e que são conhecidos como Cristos ou Budas; e o que deve ficar muito claro, daqui para frente, é que não importando a religião, quem de verdade em nome de Deus fala e pelo homem se dá em holocausto serão doravante designados Cristos ou Budas, nomes absolutamente equivalentes e que designam os Verdadeiros Iluminados, não sendo, portanto nomes do homem. Mas há de se respeitar e reverenciar os nomes deles enquanto homens, porque de homens se revestem para agirem e aos homens falarem morrer na terra por ele.

Quanto aos reinos da natureza vistos superficialmente no primário conceito de reinos, não se imagina quanto custara a sua construção às hierarquias, nem quanto tempo elas levaram para isso, considerando-se que “uma hora cósmica” representa bilhões de anos terrestres. Mas se quiseres fazer um esforço mental, imagina numa somatória de tempo simbólico “às quatro horas cósmicas”, relativas aos quatro reinos, descontando uns bons pares de milhões de anos que ainda faltam ao nosso reino, e aí terás uma idéia aproximada do tempo de construção de um universo. Caso creias na lei de evolução! Meio a brincar, porque sorria, disse o velho Teósofo, e terminou dizendo: - bem, meu caro aprendiz, por hoje basta e amanhã retomaremos nossa conversa.

- Está bem meu bom senhor, mas vagamente compreendo tudo quanto vai dizendo, mas não podemos negar ser bastante hermético este tema, para que o homem vulgar entenda o arcano sete, a duração de um reino e seus construtores, bem como os setenários, etc. não é, meu bom senhor?

- Deveras é, mas amanhã seguiremos.

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