sábado, 31 de maio de 2014

MARCAS E BANDEIRAS



Bandeiras tremulam ao vento agitadas, tremem nas mãos voluptuosas! Mostram em que vão engajadas fingindo, mentindo, gulosas!

Os sem isto e aquilo, sem lei, pátria, sem eira nem beira e mais nada, sem identidade e de a cara encoberta, mentirosa.

E eles são tantos tão iguais! Não têm direito nem vez, mudos nem direito à palavra, calados de emoção, razão, vão sem pão, rosto, identificação e sem nada!

Os daqui, dali, ao vento, ao léu, que a qualquer preço querem comprar e vender e até tomar de arma na mão!

E eles são tantos, à margem de qualquer estrada! Sem isto, aquilo de cara mirrada, mãos trêmulas, descalços, sem nada! Tantos, meu Deus sem pátria, identidade e nação! São tantos! Meu Deus! E para onde vão esses pobres guiados por cegos e de saber anão?



sexta-feira, 30 de maio de 2014

AS FORMAS E AS CORES


Observadas pelo princípio da inteligência situada nos olhos, as cores oferecem magníficas e quase incontáveis combinações; mas ainda assim não são nada, comparadas a uma rosa, a uma pessoa, a uma mulher, se no caso é o homem quem olha; ou com uma criança, alguém perfeitamente identificado com o nome e com o rosto, com voz e presença querida; enfim, a verdadeira expressão individual exibindo-se aos olhos de quem observa não há nada que a supre. Nem a há cor púrpura, por exemplo, que me encanta que supere esta beleza expressa pelo ser.

E nesse observar alguém de inexplicável e subida honra, no meu caso não há o que se compare à Juliana, que é pequena de idade, mas imensa ao meu mais elevado querer e igualmente a sua vovó Clara. Sim, Juliana fatalmente fadada a crescer e um dia será adulta.

Só desejo que siga a trilha dos buscadores de si mesmos, para não nos separarmos como seres espirituais andróginos, assexuados; e que se unam no caminho da evolução por laços metafísicos da eterna aliança, muito além destas sombras e até destas palavras, que o tempo a pó desfará, assim como desfeito está o formalismo simbólico familiar pelo elo de sangue.

Há quem insista (entra neste instante em cena o meu eu critico para denunciar aquele que), atrevidamente anuncia um espaço permanente e um tempo infinito à espera de quem vença um concurso de fé! E que em paz, (segundo o conceito de paz) morra depois de comprar em nome da esperança o que em nome dela se vende e até o que se oferece de graça, quando todos sabem que nada dessa natureza jamais estará pronto, para dar ou vender...

Por estas e outras me atrevo a repetir um sem fim de vezes, que o sonho é o real motor do movimento da imaginação com que buscamos o amanhã; e, de algum modo mantém-nos vivos, enquanto incansáveis e esperançosos a nossa trilha palmilhamos. E é isto, apenas isto tudo quanto temos: sonhos, quimeras e umas formas arcaicas recém saídas do forno e todo o resto por fazer.


Sequer o que aqui eu diga está acabado, portanto é o que digo quase o mesmo que não digo. Assim tal como tudo que foi escrito ou dito e feito não é e nunca será alguma coisa revestida de eternidade. Exceto formas abstratas e cores, pessoas e a Juliana; e naturalmente flores, riso, muito riso em homenagem à morte de tudo que estiver pronto e à venda. 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

TEMPO DE ESPERAR


Mas será tempo de esperar ou em algum tempo esperar foi tempo de alguma coisa nova vir a ser?

Esperar! Que verbo impossível! Nunca quem esperou recebeu exatamente o que esperava, caso ao que esperasse tenha dado face e forma...

E se não criou imagem nenhuma, nada esperou. É impossível esperar sem imaginar e criar uma imagem do que se espera.

Esta é, todavia só um lado da história, que tem no outro lado o tempo, esse impostor mentiroso escondido nas aparências.  

Duas falsas coisas ou, se quisermos, duas ferramentas impossíveis: esperar e tempo. Esperar, já se viu que não se pode conjugar esse verbo, pois não há o que venha e se vier nunca será o que se esperou como se imaginou.

E o tempo, por não existir e andar por aí a fazer diversos papéis que não lhe cabem, foge da sua única natureza de ser infinito.

Está difícil entender essas duas formas tão amiúde usadas, e tão absurdamente falsas? Experimente, quando for esperar alguma coisa com a idéia fixa de que o tempo não existe e verá que o que espera quando chega já passou ou nunca existiu.

O tempo em seu estado de infinito tudo que tenha uma forma concreta ou abstrata e passe, não existe!

No Ocidente judaico-cristão até pouco tempo atrás, com a idéia do paraíso e da vida eterna gerava de alguma maneira a expectativa da permanência e do sempre.

Já no Oriente a idéia da impermanência ou maia sempre prevaleceu no conceito de que tudo o que nasce, se teve inicio, terá fim.

Esta idéia simples, mas tão difícil de um ocidental aceitar, não mais se discute e é realmente uma verdade indiscutível.
        
Diante disso, o que se pode esperar que chegue e exista? Nada! Absolutamente nada e embora cruel à primeira vista, é depois de compreendida condição maravilhosa e reafirma o amor universal, em primeiro momento, pois se temos a consciência de que tudo é passageiro, ainda assim prevalece o amor...

Bem, agora falta a outra metade para comentar, que é tempo, mas ainda alguém tem dúvida de que sendo infinito ele não existe, em estado relativo?

E então, ainda carece dizer mais alguma coisa a respeito?


quarta-feira, 28 de maio de 2014

JULIANA E OS GÊMEOS



Já meio no ocaso da minha cota de tempo vital medida em dígitos de prana, opostamente à das três crianças da casa onde a vida desponta alegre e toda por desabrochar, vai a minha amarelando pálida e triste. E só da presença delas adquiro um sorriso colorido. Talvez melhor dito fosse dizer ser o único colorido possível neste outono de folhas amareladas e os pensamentos meio endurecidos.

Estranhamente o cálcio que aos ossos vai faltando parece subir à cabeça, endurecendo os neurônios. Evidentemente que não é possível cristalizar o pensamento, mas os neurônios em parábola triste sim, podem ser engessados numa cápsula de extrato de calcário bege, já no inicio do outono.

E com poucas lembranças da primavera, o verão na imagem surreal do véu escuro descendo na frente do sol, apaga em definitivo a ilusão de que brilha o dia inteiro para todos!

As folhas secas pelo chão ao sabor do vento dão fim à fantasia escrita no ar de que haverá ensaios de primavera, eternamente, mesmos os que por ventura e atrevidamente se apresentem saltitantes à memória. Em vão saltitam ante as barbas e cabelos brancos, tanto quanto os pés cansados denunciando não muito distante o inverno finalizador de um ciclo.

Mas ainda das crianças o colorido mágico de muitas futuras primaveras extrai do caos um frágil brilho de esperança no olhar essencial da alma. Do rosto já não é possível num gesto de carinho apagar as marcas do tempo em sulcos e traços fundos, a marca que assinala a breve partida sem pátria e sem glória.

Não certamente aquela glória pela qual e por vaidade perde-se a vergonha e a honra para conquistá-la e aumentada na hora da partida na voz demagógica. Mas a glória viva e verdadeira que refratou em vida qualquer desejo mórbido e egoísta, de quem parte em paz.

Sim, esta glória mansa que apascenta o coração dos homens bons, mas como pode quem pensa um pouco mais e melhor extrair ou usufruir a paz, vendo a cor do mundo enlameado e indo morro abaixo? E de tal modo, os poetas que pretendam cantar e viver altas emoções, como hão de rir e festejá-la, quando ainda em guerra vão as gentes?

E eu como nem sou poeta nem desejo viver altas idades, apenas vivo o drama de ser fantasma de um ego real, que se fará em mim a cada dia retratado por mim... E se fosse poeta talvez fosse um poeta cego, surdo e mudo.

E também como as almas dos poetas são tecidas de tédio e saudade, embora não fale das almas dos poetas tendo a minha por modelo, para que o amargor verdadeiramente poético não seja “félico” e vá amargurar a vida dos verdadeiros arautos e impedir subam das masmorras físicas aos arquipélagos do sonho sem nenhuma dor; a alma dos poetas, evidentemente, não a daqueles outros estranhos supostos poetas ou arautos da modernidade quase sem alma, embora grandes vendedores de livros!

Já aqueles inteiros poetas cuja poesia o mundo jamais conhecerá, gozam gloriosamente ser inéditos e eternos. E esta há de ser a arte do verdadeiro artífice das palavras. Tendo ele deixado este mundo ainda jovem sem a ter escrito nada, nem sequer pensado ou sonhado a sua poesia, dele colorir-se-á o céu com as raríssimas flores da sua arte. Desse e outros verdadeiros, infelizmente eu não sou nenhum! Entretanto sei olhar, sei respirar, sei ouvir e às crianças vejo e ouço, respiro o melhor por elas, olho o mais belo por elas e vêem-se por essa janela metafísica poemas universais, escritos em cada gesto espontâneo e livre enquanto aprendem as primeiras palavras!


Para quem lê os poemas que o rei dos poetas escreveu nas páginas do tempo com as estrofes magníficas na forma de pequeninas pessoas, sim as pequeninas pessoas recitam universais poemas! Ah sim, há crianças! Lindas crianças, mas serão apenas crianças? Poemas luminosos em essência, podem ser maculados se houver mãos sujas!  Tomara sejam poemas esperanças de fraternidade, onde a mácula adulta não alcance e contamine! 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Truncar para Esconder


Desce ladeira abaixo e sobe à ponta da língua
Um quê de nada da cor cinza originalmente azul.

Montanha acima a lagarta alpinista sai da boca
E desce voando em rasante disparo “borboleteando”.

Cães pastores pastam ovelhas e as cabras deleitam
Folhas escritas de tinta verde natural de hortelã.

Sim era manhã já tarde escurecendo e a chuva
Desceria breve à noite de quase já meio dia.

Ninguém ainda dormia, mas todos de olhos fechados
Imóveis, nenhum ruído se ouvia.

Era festa na festa da festa de festejar a festa de todas
As festas por festejar ainda sem festa.

Outro ano virá amanhã depois do ano passado ter fechado
Antes do tempo sem avisar ninguém.

Mas amanhã quando sair o sol logo pela manhã sem chuva
Sem nuvens no céu, será um deus nos acuda.

Decreta-se a fim das mentiras esfarrapadas molhadas
De chuva fraca da prometida tempestade.

Formigas e galos famintos abraçados, vão ao terreiro do vizinho
Levar presente de aniversario ao sapo familiar.

O rato interrogando o gato quis saber da noite anterior quem teria
Derramado o leite depois de tomar todo o vinho.

E o vizinho enciumado do mendigo que batera à sua porta
Quis saber onde encontrar o seu desapego.

Mas o mendigo sem imaginar o que seria o tal desapego
Perguntou por andava a liberdade.

Liberdade era a esposa do vizinho que lhe dava sempre pão
E algumas letras soltas boiando num copo de água.   

Ladeira, língua, montanha, lagarta, borboleta, cão, pastor, formiga,
Sapo, rato, gato, leite, vinho, vizinho e sua mulher liberdade.


Uma plêiade de seres para que se apresente na festa o mendigo...  

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O ESTADISTA E O CANÁRIO




- O que poderia ser aquele passarinho a cantar como um canário, mas não era um canário? Possuía cores de canário, penas e corpo de canário, mas não era canário? Voava como um canário, mas não era canário?

Assim perguntava um dos três senhores em torno de uma mesa quadrada, quando leses me aproximei. Esse que perguntava aparentava ser o mais novo dentre eles, e o único que não usava óculos.

- Poderia ser uma fêmea, uma canária? Perguntou o segundo, um senhor de cabelo grisalho e de cor negra, que usava óculos de armação de metal amarelo. E depois de uma breve discussão, chegara-se à conclusão e ficara mesmo acordado entre os três tratar-se realmente não de um canário, mas de uma canária.
- Tivera tal sorte um povo e em vez de um falso e mero simulacro estadista elegesse até uma canária! Disse o mais jovem rindo.

- Tem razão, não teríamos o infortúnio de em vez de um estadista que pensasse e tivesse nobreza de caráter e educação, tivéssemos este simulacro de estadista completamente obtuso dos sentidos, a quem falta até mental primário, que dirá um estado de ser inteligente! Disse o senhor de cabelo grisalho, e pele escura.

- Bem, este símile foi construído artificialmente por frustrados intelectuais, e revestiram-no de mito messiânico! Mas, todavia a semelhança com um verdadeiro estadista se resume à espécie humana – do gênero masculino – contundente no timbre da voz grave causado pela bebida, demasiadamente inculto e sem qualquer conceito de moral – aí o estado paga o pato. E como não é o pato de Pequim - de meus ancestrais -, é o povo quem deixa de comer não só o pato, mas até o frango, e às vezes até o pão. Mas paga a farra, pois o Estado enquanto entidade abstrata não arcará com os ônus nem quem nele está agora! Como os ônus são em espécie, quem com eles arcará seremos nós, por não ser abstrato na metáfora aquele pato e ser de fato a conta muito alta, e remontar a bilhões de patos anuais e diariamente as carradas patos e mais patos se desviam.

Dizia o terceiro senhor, alto e magro de cor amarela, descendente de chineses e usando óculos de lentes muito grossas, na frente de seus olhos orientais, meio fechados.   

- Em se tratando de ônus em espécie com que se fará frente às despesas que serão aumentadas pela inépcia do falso estadista e sua turma, recorrer-se-á à velha fórmula da incompetência – com o histórico aumento da carga tributária. Afinal, talento para fazer muito com pouco é exercício para os verdadeiros estadistas e artistas de bom calibre. E soberanos homens maiores. Mas estranhamente são eles sempre preteridos no terceiro mundo, concorrendo contra estelionatos eleitorais, para que sejam eleitos os ineptos pela maioria; há de se questionar esta maioria pelo valor intelectual do voto, que aí o numero de votos será de valor relativo e absolutamente injusto, porque não é justo que um voto de um inconsequente, que ainda não pensa por si e acredita em mitos e beba a alma e o juízo, valha tanto quanto o de um eleitor responsável, e politicamente esclarecido. Assim falava novamente o primeiro senhor, de aparência mais jovem.

- Ó bela canária, que passas por canário! Quem dera uma nação cometesse o ledo engano de em vez de um molusco elegesse um estadista! Em último e derradeiro infortúnio, quão mais vantajoso fora eleger uma canária ao invés de um inepto proletário! Pois quando ocorrem estes raros, mas gravíssimos equívocos, décadas adiante ainda se podem sentir seus efeitos negativos que agora são camuflados! Não só pelos estragos na economia, na cultura, mas principalmente pelos os maus exemplos à juventude, que terão de viver com o fato histórico de num momento de insanidade terem mergulhado a pátria numa verdadeira mediocridade geral, ao elegerem um inepto corrupto e mentiroso simulacro de estadista, cujo resultado final dará um estado onde não mais se distinguirá o certo do errado. E essa página escrita com rabiscos e garranchos ninguém poderá apagar; e mesmo que durante esse desgoverno passe despercebido, a razão, se é que tem alguma, está em seguir as metas e as trilhas estabelecidas por governos anteriores, vociferando impropérios tentando desmerecer quem realmente tem mérito e o antecedeu. Melancolicamente e com ar de profunda decepção ante o ato consumado, assim falava o senhor de cor negra.


- Mas a canária é mesmo muito semelhante ao canário e canta igualmente como o canário... Não é o caso do falso estadista, que sequer bem fala! Que dirá cantar! Finalizou o senhor filho da velha China. Enquanto o mais jovem no primeiro momento ria, para depois copiosamente chorar.

domingo, 25 de maio de 2014

SATURNO


“Sat-ur-anás” levantou-se do trono em Saturno, e decidiu comandar o seu reino. Quando pisa no acelerador tudo corre; e com as coisas correndo, com elas corre o tempo, corre a vida. E quem não se apressar, antes de viver as delicias daquele magnífico prado verdejante com amplas e largas alamedas povoadas de aves raras e indescritíveis belezas, será soterrado pelo Carro da Lei e quando despertar se despertar verá apenas por pouco tempo e última chance um mísero quintal com umas poucas e mal nutridas galinhas, no seu pequeno e sujo terreiro.


Isto é muito sério, e não é ele – Sat-ur-anás – tão feio como o pintam! Há até quem diga ser ele a mais bela estrela do eterno!

Mas o trono de Saturno encerra duas distintas medidas: uma conta o tempo, outra a velocidade do movimento. Como são medidas abstratas, não podem ser interpretadas como fazem os crentes de uma só e limitada fé dogmática, investidos até de pastores de gravata e pouca leitura ao próprio Sat-ur-anás... Mas se ele está acima disso e ligado a um planeta com seu comandante, como um destes interpretes pode falar dele, se não sabe distinguir um planeta de um cometa, sequer um frango de um peru ou um berro de um solfejo?

Mas falar mal de Satanás, mesmo que não saiba o que diz ainda se desculpa; porém falar em nome de Deus é no mínimo uma grande heresia, porém heresia enquanto sinônimo de burrice e não “diferente”... Pois que eles não sabem nem mesmo o que seja heresia; e convenhamos, é de fato uma grande asneira, posto não haver os diferentes para sempre... Evidentemente no sentido etimológico do termo e não usado pelas crenças.

Mas deixemos estes por ora por fora, que aquele misterioso personagem tem um mérito inegável: direta ou indiretamente obriga a olhar o outro, nem que seja pelo terror devido ter-nos concedido a nossa individualidade! Pena que ainda muitos, apesar disso mal sejam indivíduos e não vejam o semelhante sem que nele projetem o seu inimigo; ou na melhor das hipóteses, caso não pertença à mesma seita, um ninguém.

E isto é fruto de muitos distúrbios e disfunções da personalidade, que juntamente com o fanatismo da ignorância não permite se reconheça o outro como igual, salvo houver extrema necessidade e se precise de um aliado ou de um simples favor...  

Obstáculos e desconfianças geram sempre muitas barreiras que precisam ser vencidas. E ao longo da história os grandes confrontos que resultaram em grandes guerras, originaram-se desses pequenos confrontos com o próximo, numa crescente onda de intolerância.

Assim como os movimentos coletivos em prol de uma causa benemérita seja o resultado de um despertar lá nas profundezas de um ingênito sentimento solidário, ou talvez um pequeno reflexo do amor universal ainda meio sepultado pelo egoísmo; mas que, ainda e apesar de tudo, resiste e sobrevive.

Ainda assim Satanás precisa ser mais bem esclarecido... Evidentemente fora dessa questão bem e mal muito distante e bem além desse julgamento que dele fazem os pastoreados de todas as crenças temerosos de um algoz, que eles próprios criaram...

Todavia Satanás há muito levantou do seu trono em Saturno e hoje está completamente redimido, mas a sua expressão negativa está agora com quem o criara, até para do uso dessa imagem obter vantagens, e enquanto vão alimentando essa imagem vai adquirindo corpo pelas constantes formas pensamento; e está neste momento em alguma igreja “mundial” “universal” ou episcopal do evangelho do terceiro, primeiro ou décimo do dia de qualquer coisa, que deveria caso obedecesse alguma ordem coerente ser quarta, por se estar na terra. E só por isso e não por outro motivo é que deveria ser quatro, onde o cinco é o grande gerador do movimento. (???)

Mas enfim, possuindo muitos personagens, inclusive Satanás que afugenta os crentes temerosos obrigando-os a se esconderem atrás de uma cruz na qual crucificaram o seu irmão, a quem tomaram naquele momento por ele e hoje chamam de Jesus. Mas isto fica para depois da contenda final, se o permitir o Quinto! (...)



sábado, 24 de maio de 2014

CONVERSA NUMA SÓ VIA II


...
- É deveras muito velado este assunto! Concordou o jovem maçom, mas já bastante satisfeito pelo nível da conversa, bem ao estilo do velho Teósofo que abre um largo sorriso, olhando com bondade para o irrequieto aprendiz.    

- Reconheço no hermetismo e no fato de o assunto ser invulgar uma certa dificuldade de entendimento, mas não há outra forma de o dizer. Poderia ser muito diferente se o homem não fosse ao longo do tempo condicionado a ver o universo com o olhar mágico e envolvido de mistério. E é pena que alguns cientistas e certos astrônomos não o queiram ver como ele é. Antes de uma gigantesca esfera cheia de engrenagens girando como planetas concretos, astros, estrelas, elementos químicos, desde o micro resumidamente em fungos, vírus e bactérias, células etc. e não é capaz ainda boa parcela de pessoas de transformarem o imaginário místico de uma criação milagrosa, em uma caminhada da evolução lenta e progressiva. E é assim que segue o seu ritmo o universo, que se expande e transforma aprendendo e construindo-se a cada segundo; porque em absoluto não nascera pronto como agora está, nem eternamente continuará a ser com é.

Todavia, sempre muito bem expresso e muito bem representado no especial Sete, (o carro), em sete etapas, em sete elementos, em sete impérios e em sete raças e muito especialmente na Quinta Raça, que é esta nossa aonde mais recentemente nós vimos se construírem três impérios civilizatórios; e pelas circunstâncias em que se consolidaram poderemos relacioná-los com os elementos da natureza: Vejamos, por exemplo, pelas características do império Romano senão nos lembra a poeira nas lutas campais, no corpo a corpo, a roda dos carros de guerra levantando nuvens de poeira do Elemento Terra? E logo em seguida rasgando e singrando as águas dos mares consolidando-se o Império Lusitano, do qual não se precisa muita imaginação para relacioná-lo com a água! E o atual império dos Americanos do Norte? Pelo ar a enfurecida águia a cuidar com bombas da sua ninhada, cuja poderosa força aérea não caracteriza o elemento ar?

Portanto os três mais recentes impérios: Romano/Terra – Lusitano/Água – USA/Ar, se nos apresentem vestidos a caráter para nossa despretensiosa analogia. E que maravilha que isto assim o seja, podendo-se tocar com um tato eficiente, que até em olhos se converte quando se olha e se quer entender, ou se toca nas formas concretas, palpáveis! Mas também nas formas impalpáveis abstratas em metafísicos modelos mentais, porque pensem os filósofos, astrônomos, sejam bons ou maus agentes e pacientes em suas atividades que vão dando forma ao intelecto; E do outro lado ou no Alto do mais Alto, os Grandes Construtores do universo. Seja este para uns um conjunto de galáxias, seja o fundo de um quintal para outros... Ou uma ciência séria metafísica ou física, um dogma e uma crença, rico ou pobre, adulto ou criança, seja lá o que for porque se aqui está faz parte deste magnífico conjunto, a que se chama universo seguindo seu curso evolutivo ao qual pode o homem interferir.

-Nisto concordo com o senhor, e não creio muito mais em crenças nem muito mais me diz grande coisa qualquer dogma; e ainda, apesar do alvoroço, muito pouco revela a mais badalada ciência. E além do mais, enquanto houver dogmas e crenças sempre haverá uma grande possibilidade de subversão, porque são hipóteses; e nenhuma hipótese precisa ser provada quando se trata de fé. Por isso, naturalmente em minha opinião, o que realmente parece ser objeto da maioria das seitas são as cifras e os cifrões, e estes são bem concretos e em espécie; embora subjetivo e simbólico seja o seu valor! Mas quanto a este nosso sete, dele muito mais gostaria de ouvir! Disse rindo o jovem rebelde, já agora de atitude séria e de respeitosa atitude ao velho caminhante, que em seguida retoma o assunto com o tema mantido pelo jovem:

- Todos os objetos animados ou não, têm uma base onde estarão assentes os homens, por isso têm pés e neles equilibram seus corpos na vertical, mas principalmente por terem debaixo deles um solo e uma lei de gravidade; e no estado mais sólido possível do conjunto homem. Este homem formado de um corpo onde se assenta o homem psíquico, é um ser cuja matéria que lhe dá a forma se diferencia em sete escalas, tais como, liquido; sólido; gasoso; etéreo; radiante; subatômico e atômico, não seria arrogância imaginar que numa escala universal também o universo concreto e que é objeto de estudo da ciência não seja na mesma escala, todavia universal?

Lamentar-se-á muito, entretanto, que esta ciência pelo menos não cultive outro ser em seu imaginário pessoal, em vez de uma forma arcaica de ateísmo ou crença, como pessoalmente alguns cientistas “réus confessos” do ateísmo ou crentes desta ou daquela seita, e alguns até pentecostais!

Mas de qualquer modo e de uma maneira ou de outra, todos acabam concordando que existe o Macro e que existe o Micro, e entre estes “micros” são os humanos micos ainda menores. E tanto físico quanto abstrato, desde a ameba ao diamante que é a mais dura estrutura concreta, sete é a sua escala.

Mas há de se considerar que o conjunto inteiro a quem em nossa prosa chamamos homem, vai muito além deste setenário corpo... Porque este não pensa e não sente; e alguém enquanto ente pensa e sente atrás ou à frente, em cima ou em baixo, percebe e começa aí a renascer como alma um ser espiritual...

Assentado na base concreta, onde percebe desde as mais instintivas e animalescas sensações, até a mais bela emoção de quem é capaz de sentir a sublime e indiscritível sensação do amor universal. E do mesmo modo o pensamento, desde a mais rude forma de ação mental das células minerais, ao mais elevado pensamento filosófico, só aos grandes sábios e profetas reservado o seu exercício.

E se pelo mero uso da razão nos é possível acreditar nisto; e se numa escala setenária a quisermos enfiar, é fácil concluir que ela, enquanto razão não passa de um quarto estágio; por ser este o ritmo da terra onde a razão é um atributo natural ao homem, sendo também quaternário enquanto terreno, concreto, mas parte de um universal setenário...

-Sendo, pois setenária a formação de um conjunto, e começamos a concordar com essa hipótese, de quantas partes são constituídos os elementos individuais de cada conjunto? Pergunta absolutamente consciente e já agora acompanhando o assunto em profundidade, o jovem aprendiz. 

- Belíssima pergunta meu caro aprendiz, belíssima! Prosseguiremos então com o homem como exemplo, por ser ele modelo universal, ou como diz o filósofo medida de todas as coisas, tendo em si a representação de todas as formas de vida; e que há de ser trina e então vejamos o homem: corpo, alma e espírito; e é escusado dizer, todas as demais expressões são trinas. Quer outro exemplo, uma árvore tem raiz, tronco e fruto; cabeça, tronco e membros; pai, mãe e filho, etc. de modo que, sendo de valor trino cada indivíduo, cada formação geradora de vida não haveria de ser estranha uma formação setenária na sua expansão! Ante isto, convenhamos então que sendo trinas em valor universal as sete “horas cósmicas”, ou as sete etapas, ou os sete sistemas e em se multiplicando o valor sete vezes o valor três, teremos o número vinte e um, cuja síntese será indubitavelmente vinte e dois; de tal modo que, deste jogo temos os vinte e dois arcanos maiores onde de forma ainda um pouco vela se encontra a história dos Deuses “Cristos e seus Auxiliares” que a escrevem, dos quais o sete é o carro da lei...

- Pois saiba meu bom senhor, que por essa definição de uma maneira mais ampla é que eu estava ansioso!

- Bem, como pôde observar, repito: temos então as três hipóteses que no final não são hipóteses, mas a verdade absoluta da trindade primordial, multiplicando-as por sete etapas universais, haverá vinte e um arcanos maiores, cuja síntese é o vinte e dois, aonde se vai encerrado todo o conhecimento da obra divina, para nos cinqüenta e seis menores, das cartas do baralho, encerrar-se a obra humana. E por não caber nesta nossa conversa maiores detalhes quanto às “arcas” aonde vão as suas obras muito bem guardadas, em silêncio outros detalhes ficarão para de alguma forma os interessados recorrerem à pesquisa. Com certo ar de mistério, assim falou o velho Teósofo.          


Em completa mudez de alma e desarmado de espírito, com respeitosa amizade olha para ele o jovem maçom, gesto que o velho Teósofo compreende como transformação na consciência dele, porque de há muito estava pronto para ouvir o que não é comum as pessoas comuns conversarem e ouvirem. 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

CONVERSA NUMA SÓ VIA


- Porque Sete, meu bom senhor, é o carro da lei do qual dizem ser o condutor da evolução?”
Desdenhando e presunçoso, perguntava o jovem aprendiz de maçom ao velho Teósofo. Este, calmo e pausadamente olhando o horizonte, lhe respondia:

- Unitária na pauta e dentro da harmonia, do ritmo e da melodia com base nas sete notas, havendo talento para escrevê-la, criar-se-á divino som e divina música; da mesma forma que o Supremo Arquiteto do Universo elo e elemento da unidade manifestada na trindade e pela ordem seguinte setenária, assim criava o mundo, com tudo que nele vai dentro em concerto...

De modo que por essa e outras razões se compreenderá o Sete como sendo entre muitas outras coisas, também o carro da lei. E não terá dúvida de que das sete cores coloriu o mundo num sem fim de tons, criando a mais bela obra de arte, que ninguém ousa imitar.

Ou achas tu, meu carão jovem aprendiz, que com as tuas crenças ou segundo o sistema a que pertences que é capaz alguém de inventar ou mesmo ensaiar uma forma de vida? Ou que é mesmo possível ao homem brincando montar um carro alegórico no carnaval do tamanho do nosso planeta?

Os artistas bem que tentam, mas não é possível fazer nem mesmo uma obra de arte que arremede a criação; embora eles pintem, mas só em cenas ásperas e rudes. Naturalmente sujeitos às sete cores, até porque se não precisa mais do que essas!

- Isso é deveras muito bonito, - insiste o jovem - porém em nada prova ser realmente o Sete, poderia ser oito, seis ou qualquer outro número a representar o que a conduz, caso seja mesmo conduzida a evolução. Mas eu pessoalmente acredito que alguma coisa a dirige! De modo que puxar o carro da lei, como o senhor diz não se tem prova de ser isto ou aquilo a conduzir e a orientar a evolução com um número sete, por esse universo afora. Com ares de ironia, e rindo levemente desdenhando assim falava o jovem maçom aprendiz.

- A formação setenária comprovadamente manifestada em múltiplos exemplos, não está nem vai por aí no universo afora, estejais certo disto; e até nas imortais páginas da música podeis ouvi-la, na arte podeis vê-la, no tempo em milésimas frações, horas e anos podeis contá-la... Porque também segundo as crenças de todos os povos, Deus criou o mundo em sete dias; e no mito da Hidra de sete cabeças às quais teria Heracles de um só golpe cortado, de cujo episódio no que dizem as más e as boas línguas termos nós herdado os sete olhos, e não oito que seriam na verdade os sete sentidos, pouco importando se a tradição e a ciência humana contar apenas com os cinco, mas estes cinco sentidos são por enquanto.

Mas ainda assim o beneficio trazido por estes cinco, já agora vendo as coisas pelo lado prático, é tanto e tamanho devido trazerem as informações de fora para dentro... E para que tu compreendas o que eu digo, seria esta a ação e o exercício destes sentidos externos dos quais se despertariam os sentidos internos, ou não crês tu que existe o de fora, para existir o de dentro? E se ainda ora de apenas cinco se faça uso relativo, o sete é um padrão universal dentro de um processo maior, mas como o sistema das cores, das notas, dos dias da semana, das sete colinas de Roma, por exemplo. Se com uso precário de cinco sentidos faz o homem tantas maravilhas quando está de bom humor ou inspirado, imagina o que fará quando forem os sete em plena atividade?

Ah, homem de sete sentidos absolutamente desenvolvidos, que maravilha hás de ser! Bem, mas ainda sete, meu caro jovem, está representado nos sete candelabros do templo; ainda sete são os passos pelos quais sistemas universais em sete universos encerram a causa única, após um dia de Deus Trino que se divide em Sete, cujo tempo nem o mais megalomaníaco matemático ousa especular... Ainda sete, meu jovem aprendiz é tanta coisa, que nem imagina como será difícil para algum teórico materialista negá-la!

-Bela é a retórica! - intervém o jovem maçom – fascinante, até, porque é deveras bela, mas não me convence meu bom senhor, não me convence! Exclama meio ironizando, mas sem disfarçadamente deixar escapar que está satisfeito com a conversa; e também em forma velada, mas patente na expressão de seu rosto que ao velho ancião não escapa, mostrando o desapontado com os rumos seguidos pela instituição à qual pertence.

- Não condeno a retórica - torna o velho Teósofo - embora pessoalmente, devido o uso que dela se tem feito ultimamente, não a aprecie; e ainda que o que vamos discutindo lhe pareça essa forma, tenha a certeza de que não é! Porque o assunto que nos convém, seja o do carro e este carro não é um carro qualquer! E ainda que fosse uma fórmula um ou um disco voador para brincarmos de analogias, não seria nem pálida sombra a este Sete, porquanto se trate do carro da Lei abrigando em seu interior o universo, fruto dos Sete Primordiais Universos.

Aliás, carro e universo se confundem, sendo ora um que se encaixa em nosso tema universal, ora o outro com que se designa o Todo. E enquanto Carro e Sete serão Um entre os vinte e dois Arcanos Maiores, onde parece encerrar-se o trabalho dos Hércules, a história dos Cristos e dos Budas, ou o sacrifício das hierarquias.

Enfim, a história divina em vinte e dois grandes trabalhos cósmicos ou vinte e duas horas cósmicas, às quais se as desejares conhecer em profundidade terás que desvendar os mistérios da Cosmogênese. Pois é certo que só ali encontrarás respostas adequadas.

Mas não sei se tens notado, eu venho conversando em uma só via, enquanto tu indagas ou silencias; isto revela ansiedade que prende a língua, ou até um desejo disfarçado de aprender o que se pretende simular que se conhece, sem realmente se conhecer; o que por um lado é bom, pois de algum modo me reporta ao passado, quando a ânsia e tremenda pressa sufocavam-me também. E o desejo de entender o que nem era muitas vezes para entender, mas como se tratava de ansiedades filosóficas de caráter especulativo, às vezes se revelava até em asneiras!

- Diga-me então, amigo, - inquire o jovem maçom de olhar longínquo, como se fitasse o horizonte – se eu bem compreendi o sentido da “hora cósmica”, seria uma destas horas o florescimento completo de um reino? E aí eu lhe digo, caso seja congruente a minha pergunta, eu começo a desvendar o mistério; e até posso adiantar que uma leve satisfação começa apascentar um pouco a minha ânsia; e neste estado a primeira coisa lúcida que me ocorre é que o universo, atrás do qual está Deus, é demasiadamente grande para qualquer um o desvendar! Que dirá revelá-lo, principalmente por quem a todo o momento em vão e em seu nome fala e profana!

Mas até esta profanação tem agora outro sentido, porque são deveras muito miúdos os que o fazem, para o atingirem com suas bobagens e crendices. Diz o jovem, já agora com certa euforia e sinceridade no tom das palavras. 

- Horas cósmicas ou reinos, meu bom aprendiz de pedreiro, entendam-os como aqueles conhecidos pela ciência como sendo os reinos da natureza, tais como o mineral e o vegetal... E o animal em duas grandes vertentes, que a toda a família congrega desde a ameba ao rei leão, desde o rei leão aos mais elevados seres que aqui um dia pisaram e que são conhecidos como Cristos ou Budas; e o que deve ficar muito claro, daqui para frente, é que não importando a religião, quem de verdade em nome de Deus fala e pelo homem se dá em holocausto serão doravante designados Cristos ou Budas, nomes absolutamente equivalentes e que designam os Verdadeiros Iluminados, não sendo, portanto nomes do homem. Mas há de se respeitar e reverenciar os nomes deles enquanto homens, porque de homens se revestem para agirem e aos homens falarem morrer na terra por ele.

Quanto aos reinos da natureza vistos superficialmente no primário conceito de reinos, não se imagina quanto custara a sua construção às hierarquias, nem quanto tempo elas levaram para isso, considerando-se que “uma hora cósmica” representa bilhões de anos terrestres. Mas se quiseres fazer um esforço mental, imagina numa somatória de tempo simbólico “às quatro horas cósmicas”, relativas aos quatro reinos, descontando uns bons pares de milhões de anos que ainda faltam ao nosso reino, e aí terás uma idéia aproximada do tempo de construção de um universo. Caso creias na lei de evolução! Meio a brincar, porque sorria, disse o velho Teósofo, e terminou dizendo: - bem, meu caro aprendiz, por hoje basta e amanhã retomaremos nossa conversa.

- Está bem meu bom senhor, mas vagamente compreendo tudo quanto vai dizendo, mas não podemos negar ser bastante hermético este tema, para que o homem vulgar entenda o arcano sete, a duração de um reino e seus construtores, bem como os setenários, etc. não é, meu bom senhor?

- Deveras é, mas amanhã seguiremos.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

RETICÊNCIAS II


Se a cantar, que é motivo de alegria se chora tanto, como não se há de chorar quando realmente estamos profundamente tristes e dolorosamente sofremos?

Pensemos bem: quando a cantar acontece esse modo de sofrer, naturalmente quando se chora nas festas, não é de supor-se, por um raciocínio simples, que se pode morrer de tanto chorar quando sofremos? Talvez até não se morra, porque vivemos uma inversão total de valores e se chora com lágrimas de crocodilo! E também muitas vezes acometidos de uma boa dose de masoquismo nem sabemos por que sofremos! Mas é natural que nessa inversão de valores em vez de se beber um bom vinho da melhor safra, se beba qualquer vinho ruim bebendo-o por bom!

Mas se afinal valorizarmos só as piores castas de uva jogando fora as melhores e com elas o melhor da vida, de tal maneira desprezamos o fruto da árvore da boa geração, desprezamos a boa convivência e a boa educação, ao fim e assim jogamos fora a real essência da vida.

E daí surge o mito e tememos a maçã proibida, temendo ser pecado desprezamos o beijo da mulher amada, e à melhor bebida guardamos como sagrada em vez de bebê-la, e assim não se dá alegre sentido à lida: e então o bom queijo que muito bem combina com um vinho, a flor mais bela e a melhor comida, e se a alegria e o prazer desprezarmos embebidos em trágica e inútil agonia de nossas quimeras, morremos!

Mas ainda assim rimos sem graça nenhuma à noite, e como pobres desgraçados, sozinhos, no dia seguinte choramos como as crianças abandonadas estranhando o dinheiro falsificado? Mas como num país desgovernado, com pessoas sem moral, sem ética comandando a nação ao caos podemos estranhar o dinheiro falsificado?

E então? Se a cantar choramos por faltar-nos a vontade primária de mudar o nosso destino nacional, como haveríamos de rir quando sofremos com os nossos desatinos? Pobres e desatinados, meio insanos sofrendo por nossos desenganos, por que afinal riríamos se deveríamos chorar aos cântaros pelas desgraças em que votamos?

E isto tanto vale para o dia quanto pra noite quando se toma umas cachaças, quanto no modo aparentemente certo; mas sincero não, que não há gesto sincero de nenhum que se apresentou para ser votado, dita as regras e serve de modelo a quem não pensa por si, e por isso nenhum voto que se lhe deu foi honrado!

Mas continuamos rindo mesmo depois que sufragamos a sorte nossa e do povo, na mesma garrafa que jogamos fora com a melhor bebida às gargalhadas.

E porque andem sem letras os iletrados, não tenha vergonha na cara o cara, é assim que à pior das castas guardamos e ora o melhor da espécie jogamos fora; tanto na urna virtual quanto na eletrônica. Isto, porque, se a cantar é isto, imagine-se quando se chora? 

RETÓRICA
A grande genialidade da palavra é ela não ter genialidade nenhuma quando separada e fria; ou até às vezes em poesia ou prosa, puramente humanas a recitar dramas meramente trágicos. E por certo reles será essa palavra se não contiver relação com o todo universal em alma e essência, e como pode aí ser poesia concreta demasiadamente concreta genialmente humana?

Mas por que falar de poesia, se a palavra em si composta por letras numa formação genial olhada com respeito, é muito mais universal que a poesia! Em qualquer análise sintática de uma construção concreta teremos ainda que em forma de poesia elementos rudes, duros, juntos com palavras numa construção, que se fosse feita só de elementos etéreos e abstratos ninguém veria!

Todos os pensamentos deveriam ser expressos em vocábulos audiovisuais, e serão, um dia, mas nem todas as palavras são dignas de serem ouvidas ou lidas.

Nesse caso ouvir constitui-se então no melhor predicado humano favorável à construção de si próprio, em vez de falar, que serve só para construir frases aparentemente elegantes, mas só para se tornarem maiores que as palavras, estas maiores que as sílabas, que por sua vez são maiores que as letras!

Afinal, geniais, quais construtores de livros? E sendo os livros os países das palavras até se compreende porque há países muito ricos e países muito pobres, senão miseráveis!

Embora alguns dos mais pobres exportem muitos exemplares! Sinal de que a exportação revela a pobreza global.

Pena que por trás deles estejam os homens que não deveriam escrever nem governar e escrevam e governem!  Muitas pessoas que me lêem devem estranhar porque repito tanto esta crítica. É porque essas aberrações continuam crescendo! 

Mas, felizmente, por trás destes falsos profetas das palavras, outros também escrevem grandes e bons livros. Por isso é que a genialidade reside entre os dois momentos poéticos: bons e maus livros. O que não vale para o governo atual, por motivos óbvios de tábua rasa e de palavra rude, aonde até a inocente língua, vai sepultando aviltada!

Infelizmente não só a língua por eles arrasada vai sendo enterrada em cova rasa, mas também enterram os valores éticos e morais que com ela foram assinalados em tratados memoráveis, e a sua alma são os versos, as palavras geniais, a cultura, a cor, o sabor, a arte e o dom de ser uma nação original e digna, mas também agora no país do futuro até à nação se enterra em cova funda.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

ESTAR

 


Mas porque será que no fundo do meu poço nem o vento quis soprar? Não há no fundo do meu poço frio calor nem luz, nada em que por medo ou covardia eu possa me agarrar, aí onde qualquer ilusão já não me seduz!


Através dos pensamentos emocionais, essas sensações vagas e incertas ou da razão delirantemente senhora da verdade que se julga o máximo? Em qualquer hipótese não há mais do que nada no fundo de meu poço e um eterno escuro umedecido e tedioso.

A consciência mínima, nos limites perceptíveis dos sentidos em estágio primário, no fundo do meu poço é um pensamento fixo, só há um traço inteligível. Mas mantém a ideia de que lá no alto, atrás da serra à noite mora o sol.

Mas se no fundo do meu poço boa ou má sorte, bem ou mal não fazem qualquer diferença, é porque tudo não é nada e o sol à frente ou atrás da serra que diferença fará à noite ou ao dia, no fundo do meu perceber?

Não é nada a serra antes nem depois do sol aqui no fundo do meu poço, nem há antes nem depois ou após qualquer conforto desconfortável! 

Nada aqui me impede vá ou fique nem pesado ou leve pesa, nada aqui me prende ou solta, nada aqui me diz nem cala!

Âncora ou asa que segure ou eleve, nada que sopese além do vago estar, sem ser vazio ou cheio que vá ou fique onde está.

No fundo do meu poço nada há que impeça de no fundo, bem no fundo aqui ficar. Pois é aqui qualquer tudo de um nada sem lugar, estado de um mero existir sem estar nem ir, um momento apenas de não chegar nem partir nem ficar, aqui onde nem nenhum lugar.

E por que aqui é assim? É porque assim eu quero e assim o creio; e é assim por não ser estado um lugar vazio nem cheio... Mas não é um patético fundo do poço, aonde vim ficar ou me esconder! É um vazio necessário para não ser nada antes nem depois; assim num rebelde desprezar conhecidas e desconhecidas possibilidades de qualquer modelo experimentado.

terça-feira, 20 de maio de 2014

GÊNESE


É provável e absolutamente possível que eu seja famoso só depois de morto. Não porque meu trabalho e minha arte sejam extraordinários, segundo minha própria avaliação, que a da critica ainda não tenho, mas porque estarei morto, apenas por isso, caso ela venha a se tornar pública. E como é de costume, e já aconteceu com o maior poeta português que não teve uma mortalha digna em sua morte.


Mas é muito estranho que os invisíveis artistas que estão sempre na mídia vendem tanto em vida a sua “arte”, que algumas outras passam completamente despercebidas! Será por falta de medida ou cor da “arte dos imortais invisíveis”, embora esses nem estejam mortos! Apesar de que, quando morrem toda a sua “arte” já morreu, por ter nascido morta, mas mesmo morta como vende! Em todas as formas e até como palavras que não dizem nada, ensaiam tão profundas sentenças ocultas que os seus místicos leitores desvendam, que mais do que leitores se revelam arqueólogos!

Não sei como, mas na mais espetacular magia magos escritores escrevem metáforas ocultas com letras apagadas, e seus místicos leitores obram o milagre de fazer vivas palavras mortas, sublinhadas a negrito.

Contudo e não obstante se vão das verdadeiras letras apartados, valendo este jogo de palavras, pois não ouso revelar o nome de nenhuma caça, mas o bom caçador de palavras ocultas saberá levantar a lebre, muito caçada parente da palavra chave oculta, que dá nome ao objeto do bom caçador de palavras ocultas.

Já minha a arte à qual não tenho receio de chamar arte por falsa modéstia, tem o raro privilégio de nascer da singularidade de minha alma. E da minha alma livre, sem amarras de natureza nem de estilo acadêmico, porém feita com todo o rigor Lusitano, pelo qual sou totalmente livre e refratário a todas as regras e limites artísticos e sem artifícios, sem me atrever arauto de um trato rigoroso da castiça da língua, mas em pleno uso de um “desenrrascanso”.

E embora dela seja mesmo um amador tendo, todavia profundo respeito e admiração por sua beleza, por sua culta e elevada expressão, que dela fazem os grandes obreiros da palavra, tanto os de cá quanto os de lá, os que se já se foram e os que ainda virão... 

Confesso ser luso até a medula, não por marinhar com maestria a língua, mas por rebeldia. Mas reconheço ter sido aplacada a indomável rebeldia lusa pela leveza da brisa tropical brasileira. Na mesma medida em que afeiçoado à sua gente posso sem pedir permissão dizer, que é hoje a “minha querida gente” da qual orgulhoso ouço com alegria a sua espontânea música, cadenciada na nobre alma do Tupi, cujo fulgor reflete o indomável espírito Lusitano nela suavizado e fortalecido com arcaica e aqui renascida vergôntea africana, pronta e magnífica taça para receber todas as raças.

Ah que resultado magnífico! Ao congregar todas as cores deu-nos este maravilhoso povo, de agora e do futuro! Naturalmente chegado, presente e com certos predicados, visivelmente ausentes em outras castas!

Embora isto não tenha nada a ver com o assunto da minha arte, “este” é o espírito dela. Pois neste bendito solo a exerci e continuo a exercê-la, e o sangue luso em minhas veias da bendita água brasileira recebeu juntamente com o bendito ar que em meus pulmões entra e sai, e até uma bendita cachacinha ora ou outra compõe a química deste meu ser falador e fazedor de coisas e de arte. Mas que arte será a minha? Seja qual for não é puro talento, mas talvez pela influência desta magnífica terra, e desta maravilhosa gente!


Embora, repito, quando eu morrer... Eu mesmo saberei melhor o que fiz por arte, e o que andei por aí a viver. Seria bom se fosse essa a verdade em negrito, e não apenas o grifo; mas depois de morto o máximo que posso provocar é mau cheiro se não tiver mortalha digna e apropriada para daqui ir-me ao pó.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

BANDEIRAS AO VENTO


Eu quero apenas e tão somente da vida o que para vivê-la de modo simples eu precise. Nada, além disso, desejo. Pois certamente me pesará se o tiver de carregar nos meus ombros; à vida quero leve o mais que for possível entre os limites da quase levitação promovida pelo engenho do ouvido, nessa arte que eleva e mantém-nos de pé na gravidade, a prender-nos à terra. No meu caso, exatamente do tamanho que sou, com o peso que peso, mais o mínimo indispensável para viver; e é assim que sigo o meu destino, onde o destino e a minha relativa vontade me levarem.

É evidente que o destino, por havê-lo eu até aqui tecido e seguir tecendo-o na medida do possível, dirijo-o de bom grado e o assumo para seguir em paz comigo.

Insano e a esmo não, isso não posso dizer que seja a minha maneira de ir, pois a consciência já me deu um eixo com que traço minha estrada, pela qual vou deixando as minhas pegadas...          

Leve sim, o mais que for possível e livre totalmente, sem mágoas que ao juízo tolhem e inconsequentemente venham a tirar-me o equilíbrio!

Compreenda-se este leve caminhar como predicativo do exercício constante tanto da técnica da respiração, que me ajudou a aliviar a gravidade aos pés, quanto por rasgar todas as regras ditatoriais.

Conquanto não pensem que as rasguei loucamente ou revoltoso, porque desrespeitasse os meus limites, ou fosse um comunista insano! Não. Não sou louco nem comunista, pois amo o semelhante e reconheço os direitos de todos os homens; lamentando, entretanto em muitos a ausência dos limites e o desconhecimento dos mais primários deveres da civilização!

Mas incrédulo sim, totalmente incrédulo nesses homens, pequenos simulacros de estadistas, e nesse deus que à viva voz ou em fórmulas escritas o anunciam, e em tantas prosas não me canso de criticar, porque não sendo eu um cego, dele não vejo vestígios em nada do que dele e em seu nome oferecem tão barato.

Mas em Deus como o creio e dele tenho razoável consciência, sim; e se de repente alguém me perguntar onde penso eu Ele se encontrar, responderei que Deus está em mim, em primeiro lugar, cuja presença é impossível negar pela inteligência primária que me é natural; seja a inteligência da compreensão amistosa ou indignada, seja eu alto ou baixo, seja eu sábio ou idiota, seja eu uma pequena célula de entendimento de mim mesmo, que possa conceber-me como um conglomerado de células organizadas por essa mesma inteligência universal, que formam este indivíduo que vos fala.

Sem o negar também em tudo e em todos, mesmo naqueles que hoje o fazem de pedra, madeira e dinheiro, muito dinheiro!

Inabalável nessa minha absoluta incredulidade nesse deus, eu creio mesmo só em Deus real, vivo em todas as coisas; e então por analogia simples e sem falsa modéstia em mim, naturalmente!

Ou em que paraíso, nirvana ou céu poderia ele estar, se em mim não estiver e igualmente em tudo?

Mas realmente naquele um em fórmulas mágicas que às prestações vai sendo oferecido e sujeito aos altos juros de um inferno, por falta de pagamento não, neste eu não creio!

Portanto e apenas por isso é que eu quero mais da vida a vida enquanto dure, e me leve muito leve e livre por aí num ameno e constante caminhar.  




ÉTICA DA MORTE

   

O tempo passou. Mesmo sem existir, o tempo passou. Se realmente existisse e tivesse consciência de sua existência, certamente contaminado pelo pensamento do homem que o inventou e a tudo quanto toca contamina, passaria escarnecendo a envelhecer tudo com raiva, sem se importar de envelhecer encaminhando à morte o que tocasse com requintes de cinismo, por não ter compaixão nem senso de permanência com a sua criação, exatamente como faz inconscientemente sem saber o que faz.

Amoroso, o tempo? Com a consciência que lhe emprestasse o homem para que não eliminasse tudo pela VELHICE em sua passagem? Esse homem que destrói a outro Homem que ouse declarar amor pela humanidade? Vale a pena fazer semelhante pergunta só para rir! Não do tempo, mas do homem, claro! E é claro também que rogamos perdão às pessoas boas que vagueiam entre a turba distribuindo caridade e compaixão... Sim, a vós que por vós vale a pena a vida, perdão por estas minhas palavras duras.
           
Mas voltando ao tempo, não obstante a sua inexistência, todas as coisas com forma, enquanto existem possuem uma ética imutável e inevitável, que perante a morte marcam a numa espécie de olhar pra trás num adeus na passagem de um estado para outro: do bruto para o sutil, do sólido para o líquido... Nessa plasticidade que as substâncias orgânicas animadas possuem, quando se decompõe a estética de uma construção, para recompor-se noutra e isso é muito bonito do ponto de vista da natureza “naturada” a converter-se na passagem em “naturante”.

Poderá ser até através de um artifício inventado pelo homem, uma arma, por exemplo, ou via natural; porém sempre através do ritmo e movimento temporais, pouco importa que de forma trágica ao sofrer o impacto de um petardo, no caso de alguém ou alguma coisa indesejável que se queira eliminar.

A morte é sim a ética natural a todos os seres vivos. Ora interrompe o sofrimento, mas também interrompe na flor da idade à alegria, sem se ter certeza do que seja realmente a vida. E na mesma medida, também o que seja a morte que sobreviva e se imponha à tristeza ou à alegria de quem observa essa transformação.

Mas enquanto não chega “aquela” que a mim se dirige e teve início tão logo saí do útero materno, faço-lhe muitas indagações, pinto-lhe inúmeros retratos em quadros abstratos, crio e recrio conceitos e teorias, descrevo-a em poesia e prosa, embora da vida em si não saiba mais do que ter ela um final, como tudo no mundo tem num rito de apagar e fechar os olhos.

Quando cessa o rítmico coração e em seguida sobrevém absoluta quietude para quem vai, as lágrimas dos parentes e amigos que ficam operam uma leve passagem da água interior nas lágrimas, enquanto o levam à cova ou ao crematório.

Quando se pressupõe tenha dele voado algo vivo e alado, embora ninguém o tenha visto; mas alado, senão como voaria, se é que voou?

Poder-se-á também dizer que tão logo expire o último hálito arrefeça, para em seguida enrijecer, quando aquele ente dito feito à imagem e semelhança do criador tivera pela dinâmica da inércia passiva, eliminado o físico de acordo com as circunstâncias das energias que perdera desmoronando-se, deixando de se manter animado e inteiro; e a alma, e supostamente o espírito não estendo mais por ali, onde terão ido? Esta é a grande pergunta, tanto para os místicos e fervorosos crentes, quanto para os leigos.

E muito especialmente para os filósofos, a quem a morte constitui ainda grande questão sem enunciado à vista descartado completamente o conceito de céu e inferno.

Poderia recorrer a meu atrevimento e responder a esta pergunta de acordo com o meu conceito, mas seria mais um conceito dentre tantos já escritos, falados, ditos e alardeados e até comercializados. Por isso não vale a pena, pois seria mais um conceito.

E poder-se-á resumir o que já existe historiado entre as várias correntes, onde uns apontam para a imortalidade da alma, outros para a imortalidade de espírito, e ainda para outros a prerrogativa da alma se unir ao espírito, quando a mesma alma se imortalizaria na morte.

E seria o ato de a ele se unir a suprema ética, da qual resultaria a sua imortalidade. Pessoalmente creio nesta hipótese como conceito estético da suprema e pessoal conquista por esforço próprio, mas não após a morte; esta conquista só poderá ocorrer em vida, tornando-se nesse momento – e nisto reside a suprema estética – um verdadeiro Prometeu libertado, que em vôo triunfal levaria consigo a sua amada Psique.

Se o fizesse, evidentemente, como Eros! Porquanto não seja isso aquilo, mas apenas enquanto isso isto, e nada mais.


E por enquanto e de acordo com o que já se sabe a respeito, só isso mesmo... (Pois nunca isto nem tampouco aquilo será de outrem qualquer coisa mais do que é cada um para si mesmo!)

domingo, 18 de maio de 2014

DEUS?



Aquele, ao qual nenhum conceito nem nenhuma palavra o definem? Está muito distante! E se pudesse nos falar diretamente a respeito das carências e fomes numa voz que pudéssemos compreender, nos diria: “à fome de espírito tanto quanto à de pão, não se aplaca com palavras, nem com reuniões ou congressos! Senão que apenas à fome sacia-se somente com pão! Seja pão físico, seja o maná caído do céu do conhecimento, seja com uma luminosa candeia intelectual, ou até com uma simples vela acesa que ilumine o escuro”.

E ainda credes vós outros que vos dizeis filhos do rei, poder falar em nome de Deus? E vós outros, que em mentiras fundamentais vossas promessas? Credes na solução política para as distorções da divisão de renda? Credes solucionar a fome dos pobres destruindo os ricos? Ah mentirosos, todos vós!

Ao Deus Supremo, origem da vida e senhor também da morte, não ouse ninguém afirmar que a nós mais que pequenos atributos ao longo do tempo de exercícios, disciplinas, caráter e honra nos houve consagrado! E também um pouco de amor, a quem pratica a lealdade e o respeito ao outro e nada mais; Quiçá, a uns raros, um pouco de sabedoria! Talvez! E em lapsos de quimeras, a nossa história coletiva só consagrou momentos passageiros de paz.

E mais que isto, não foi possível ainda registrar entre nós. Mas de alguma forma, desenvolvidos por esforço próprio e saídos daquele átomo Deus, somos realmente mesmo nós a sua esperança, de a Ele voltar como "Filho Pródigo".

Todavia, dessa esperança, não é pouco – amor sabedoria – como predicados exercidos pelo esforço de quem caminha e vai em frente, e nesse o ir é natural que se desvende o novo e vá cada qual construindo pessoalmente o seu Interno Deus – embora ainda não possuamos a medida das virtudes, com que se edificam a paz e a redenção.


Quanto à maioria dos políticos, não conhece nem a sombra das mentiras do que diz o outro lado delas, que seria a suposta e passageira verdade. E até dizem os mais velhos estar a verdade está atrás da mentira a se esconder; mas no caso político, aí ou em qualquer lugar nem em tese se encontra a sombra ou rastro de qualquer embrião de verdade. 

sábado, 17 de maio de 2014

BALANÇO DA ALMA

Caminho lentamente protegido do sol escaldante ao meio dia, por um velho chapéu de palha tecido pelas mãos mágicas de uma tecedeira de uma tribo indígena.

Ao tecê-lo com suas mãos tão hábeis e ligeiras até sinto cócegas na cabeça. Mãos tecelãs tão mágicas, que de repente o chapéu por absoluto milagre se transforma em frondosa árvore onde, ao seu redor pessoas sentadas tecem diferentes e coloridos sonhos e chapéus. E também eu desejo irresistivelmente descer do alto de mim e à sombra dessa árvore encostar-me para aí descansar.

Ao longe, o rio ainda distante. Mais distante ainda o mar. Muito mais longe quase sonhando ver corre o Ganges milenar, o Indo cortado por extenuadas e místicos barqueiros debaixo deste estranho e mesmo sol.

Turbantes em vez de chapéus são uns trapos pobres enrolados na cabeça. De tronco nu enegrecido pelo sol e a moda milenar de enrolar as partes baixas com farrapos, dão um realismo lírico ao meu delírio.

Estranho a estes seres e os seus braços remos - principais peças de um enredo delirante - cujas cenas não se vêem neste rio Ocidental, pos está ausente o místico milenar mistério dos barqueiros.

Rudes e mortais, os barqueiros deste rio não os posso inserir num enredo metafísico à sombra da velha imagem da Índia. Nem este rio é o rio Ganges nem o Indo, hoje com seus cadáveres e sujeiras abismais no fim do ciclo civilizador Oriental.

Assim é que lentamente me aproximo das margens de cá do rio Ocidental, e a meia distância, do outro lado margeia outro terreno ainda selvagem sem qualquer emoção pela paisagem.
    
Faz demasiado calor para sentimentos metafísicos. Ainda bem que a minha cabeça está protegida por um chapéu de palha tecido por invisíveis mãos de Índias sábias ocidentais! E ao tecê-lo sinto as cócegas de seus abstratos movimentos, que me dão a sensação até de seu respirar.

A aba completamente tecida em delírios de calor forma a copa da frondosa árvore, de ramos densos e verdes.
E à sombra dela protegido, quem diria, criaria a minha maior e melhor ilusão momentânea de entrar em mim! Embora não seja possível voltar no tempo milenar internamente, por encontrar-me preso no centro do meu ser em posição vertical: entre a planta dos pés no chão, e o alto da minha cabeça, que até meus cabelos arranham o fundo do chapéu.

Mas ao olhar o lado de fora repentinamente se desmancha a ilusão da copa da árvore, da aldeia indígena, quando surge novo cenário onde estou: à minha esquerda, já agora de volta à casa de costas para o rio e olhando de frente, vejo apenas os vultos passando em sentido contrário; e à direita observo o ritmo dos passos que vou dando em sincronia com o balanço de braço direito, solto; o esquerdo encostado ao corpo vai apoiado pelo polegar enfiado no bolso da calça, e eu retorno assim num todo relativo a balançar ao ritmo do meu caminhar.

Mas o que desejo irresistivelmente neste momento, já meio cansado, é criar um corpo metafísico e deitar-me nele dentro de mim, com o rosto voltado pra frente debaixo do ombro esquerdo, repousando a cabeça já muito cansada sobre a alma.

Mas para que eu coubesse dentro desse corpo nessa posição, teria que dobrar as pernas para frente e nos joelhos para trás, apoiado acima da “bacia” em posição deitada em posição fetal.

Imagino até que se o braço direito parasse de balançar fosse mais útil e em vez de apenas balançar pudesse abraçar-me de encontro às costelas, mas desisto de deitar-me por duas razões lógicas: a primeira porque temo cair com o balanço do corpo e sem o contrabalanço do braço e ir ter ao baixo ventre e aí prender-me por longo tempo. A segunda, por se encontrar o braço do lado de fora e eu do lado de dentro, tendo as costelas intermediando-nos.

Sigo então neste meu eu sensível hirto dentro de mim, abafado de tanto calor, entre a alma à esquerda e o quase vazio lado direito num ambiente pulmonar ainda cheio de ar, mas bastante escurecido pelo longo tempo que fumei.

Ao alto ainda vai a minha cabeça já sem saber se dentro ou fora, mas certamente debaixo do chapéu. No chão, protegidos por velhas sandálias vão meus pés pelo caminho escaldante de costas para o rio, quando retorno para casa sem dela não ter saído...

Pois eu posso, sim, amigo e paciente irmão ou irmã de jornada que me leem estar assim dentro de mim deitado com a cabeça aconchegada sobre a alma à esquerda, posso sim! Ou de pé a balançar quando caminho e penso. Este exercício de pensar é o único conselho que sempre dou e, por favor, nunca, mas nunca mesmo deixai de pensar!

Pois realmente é assim mesmo: quando caminho o balanço é um, quando penso o balanço é outro. De qualquer modo balanço ao ritmo de mim mesmo, porque de outro modo não é possível nem seria justo o balançar.

O estado de ser dentro ou fora deitado, andando ou a pensar e mesmo até ausente deste meu eu carnal sonhando, é dentro de mim, certamente, enquanto aqui estiver neste meu ir irremediavelmente PASSANDO.