GRÃO DE AREIA
Como definir o indefinível
se de todas as coisas desde a menor partícula à mais distante galáxia,o que
sabemos sobre a sua natureza não vai muito além de aspectos estruturais de seus
elementos, de composição química, de grãos de areia?
E desse grão de areia, por
exemplo, o que sabemos de sua memória da mãe rocha ou da própria montanha
gravado em qualquer de seus elétrons? Ou de qual lajedo se desprendera, de modo
que a ciência possa afirmar a sua real origem geológica?
Ou num processo global da
sua formação orgânica, determinar qual a distância em quilômetros percorridos,
até ali chegar?
Graças à ciência milenar que até aqui tem vindo meio
oculta inspirando a moderna, muita informação já se adquiriu, mas pouco ou nada
sabemos de como tudo começou.
A natureza material, indiretamente denuncia os
cientistas menos sérios e revela até alguns extremamente envaidecidos, embora
meramente teóricos.
E para esses, a divindade ou a energia primordial
que por trás de todas as coisas se encontra, não há de chegar para fazer-lhes
sombra.
Em alguns casos, nem se trata de grandes cientistas,
porque muitos não passam de simples doutores com ou sem doutorado.
E ainda que várias teses tivessem defendido, nenhuma
há que justifique tanto ênfase na vangloria afirmada com galhardia de não
acreditarem em Deus nenhum.
E não teria qualquer problema, a sua descrença, se
dela não fizessem uma espécie de escada com estranhos degraus.
O material usado na construção de tais escadas e
degraus poderia muito bem ser usado em coisas mais úteis, mas eles preferem
plataformas elevadas e do alto delas sobem ao topo da fama. E que fama, os
seduz!
Por isso galerias infindáveis lotam as grandes, médias
e pequenas livrarias, bancas de jornal, supermercados e até algumas farmácias
de livros inúteis.
E o mais grave é que, esses livros fazem sombra aos
preciosos tesouros escritos nas mais variadas línguas. Destas raras jóias,
entretanto, em nenhuma delas seu autor atrever-se-á a qualquer elemento em
definitivo qualificar, razão pela qual se diz que essas grandes obras não
ensinam nada.
Ainda que façam luz pelos caminhos tão claramente,
que seja possível ver as benditas pegadas de alguém que nunca por ali andou...
Muito diferentes das mãos impuras que escrevem
sucessos de venda e de público, que sem dizerem nada ensinam a arte da traição
e do dolo.
Mas quando eles resolvem falar em termos claros, a
morte ronda; quando não a de algum preceito moral que ainda os mais humildes
conservam, alguma virtude inabalável abalar-se-á, se não inclinar à morte com o
sangue a jorrar pelo chão; seja o sangue propriamente dito, seja o fluido moral
de uma alma que decai.
Entretanto, como em nome da arte tudo é permitido,
também em seu nome pelo mau exercício algum ente querido poderá vir a ser
ceifado ou antecipadamente chegar aqui pelas vias uterinas com alguma mutilação
congênita, como filho ou filha de algum autor novelístico.
Isto quando os próprios autores - os reais
protagonistas - já não vêm com suas incuráveis feridas na alma, que expõem como
as suas mazelas psíquicas em suas dramaturgias, expondo-as no lugar das
virtudes, que talvez lhes faltem.
Naturalmente digo isto em termos de análise global,
hoje possível graças á virtualidade, sem no mérito este ou aquele autor ou
autora nominalmente aqui entrar no foco.
E também sem a pretensão de querer definir qualquer
coisa, seja de que natureza for; ainda que o enredo gire em torno de um grão de
areia!
Mas um grão de areia e não precisa ser de uma areia
especial vale muito mais que alguns sucessos aos quais não vale a pena ver de
novo, e muitos vêm!
As profecias do Rei do
Mundo, relatadas no CODEX TROANO lidas hoje através de uma imagem virtual,
guardam muita semelhança com as personagens modernas, vestidas a caráter com
luxo, malícia e encenadas num ambiente de prosperidade completamente oposto às
pessoas reais, que vivem em condições miseráveis em guetos e favelas.
Entretanto, influenciadas
pela tal arte sofrem algum tipo de inconformismo. E incitados com a ficção, essa suposta arte
lhes inspira e abre a ideia do caminho mais fácil, inclusive pela via do crime
tão bem encenado na ARTE!
E então entra na história o
grão de areia como mensageiro dos deuses, e com o grão de areia haveremos de
nos ocupar pela sua importância no presente assunto e na esperança de um deles
bem rijo, de cristal enfiado oportunamente numa empada quebrar o dente de um
desses semeadores de histórias macabras, (comprovando a teoria ocultista de
que, quem fala o que não deve a milhões de pessoas, na melhor das hipóteses
poderá perder um dente, quebrado por um providencial grão de areia)...
Certamente alguns autores já perderam coisas muito
mais preciosas, todavia a presença inesperada do grão de areia enfiado
indevidamente numa apetitosa empadinha de camarão, ah que fará justiça
quebrando um dos 32 portais do conhecimento!
Antes de ser mastigada, essa cheirosa empadinha na
mão posando de estrela, torna-se uma celebridade do grande criador de
personagens, lhe concede ar de rainha segurando-a na mão esquerda, enquanto com
a direita eleva ao alto a taça de champanhe.
Cumprido o rito e a pompa na festa de lançamento da
nova peça, chega o grande momento, e que beleza! A estrela breve, a empadinha
traiçoeira ocultando o vingador grão de areia atrevido, de repente Urra!!!
Quebra-lhe o dente!
Em gesto repentino e involuntário o celebre autor
leva a mão à boca, abafando um urro causado pela dor... Mal desconfiando que
espalhar ao vento heresias e vitupérios, um dos trinta e dois portais do
conhecimento se torna maldito e quebra-se, fechando abruptamente o portal da
voz que não é e nunca foi bendita.
Claro que o melhor seria aquele arauto se calar para
sempre, juntamente com os restantes trinta e um dentes, se ainda os tiver a
todos!
E na festa de lançamento da próxima novela das oito,
sete ou seis, a grande cena reservar-se-ia ao grão de areia e à empadinha de
camarão, para os profissionais da imprensa que aí se encontravam e nem
perceberam o drama. Louvemos o tempo em que a arte continha elementos divinos e
estimulantes da inteligência!
Hoje há de lamentar-se do conteúdo “aliciante”, que
aliena e embota a razão, ainda que contenha algum disfarce com apelo social e
outros apelos.
E a arte, outrora elemento de redenção como a mais
bela expressão divina, precisa hoje ver extirpada das entranhas da bela e rara
arte, essa falsa que abunda por aí em todas as formas ligadas às sete ciências,
de onde acenam furiosos ou mansamente hipócritas os falsos profetas e a farsa
do politicamente correto.
Ante a brutal derrocada que
os reais valores sofreram, louvamos a singeleza de um gracioso e original grão
de areia, que, inesperadamente investido de carrasco se intrometeu numa
deliciosa empada de camarão. E bendita a hora que entre os dentes de um desses
autores famosos - seja ele ou ela - se intrometeu quebrando-lhe um, para
lembrá-lo de que em nome da arte espalhar ao vento a semente da traição e da sacanagem,
é crime.
Mas ao terminar este “grão
de areia”, sem saber por que o fizera, gostaria de lembrar aos novelistas que
esse tipo de jogo do mal e do bem nas suas tramas de matança inútil está muito
atrasado, pois com essa arte pobre e primária só poderão ganhar dinheiro,
reescrevendo fórmulas prontas do tempo do “onça”.
Porque o Mal enquanto sadia
polaridade que deve existir em todas as tramas, deve voltar a ser semelhante ao
Mal Original, que é a Sabedoria! E na arte absolutamente inteligente; e não
esse modelo falido, esgotado e burro.
O mal na verdade tem a nobre
função de ensinar e não alienar, inflamando o instinto cavernoso latente a
“emburricar” o homem e a incentivá-lo ao crime.
E penso ser burrice muito grande essa nossa de
recebermos em nossas casas tais novelas e anúncios idiotas dos patrocinadores,
da fornecedora de energia elétrica etc. enquanto não inventarem uma televisão
movida a ar, que movida a água também seria politicamente incorreta.