Quisera eu poder chorar as minhas próprias
lágrimas profundamente magoadas! Mas o líquido elemento que as segrega mal
chega para levar pelas vias legais os elementos químicos a todo o reino, frente
a seca nesta região sentimental, cuja fauna e flora precisam de líquido para alimentarem-se, mais que eu de lágrimas!
Chorasse muito e profundamente vertesse meu
precioso líquido em lágrimas, grande falta faria ao sistema empobrecendo a
minha régia residência; ou melhor, meu casebre humilde, que outrora ousei
chamar de templo.
Casebre, templo régio, humilde residência não
importa o estado, nela haverei de viver os meus últimos dias; e não julguem por
últimos dias o ocaso de uma vida fútil, pois não é! “Os últimos dias” tiveram
início tão logo o ar rasgou as vias aéreas do recém nascido, que aos prantos de
queimação pulmonar anunciou a sua chegada... Ou largada para a contagem
regressiva dos “últimos dias”.
Cronologicamente e por coincidência estou já
muitos instantes à frente daquele (berro primo) e se o quereis mais claramente
expresso, restam-me poucos dias, segundo confiáveis pesquisas sobre a
expectativa de vida e vale para todos, quando concebidos sejam todos apenas máquinas
de carne sustentada por ossos e movimentados por nervos...
Outra razão porque não tenha mais lágrimas
deve-se ao fator economia de líquido, devido os muitos dias percorridos debaixo
do sol a lapidar as pedras para não mais reterem qualquer coisa que chorada seja
úmida.
Nem profundamente magoadas pela inocente e
idiota justificativa da falta inevitável da juventude, que afinal nunca foi de verdade juventude, nesta zona planetária do sistema solar, nem por abundância de líquidos que não mais os há, mormente
aqueles das emoções molhadas. Porque viver sendo um ato de absurda seriedade
real em ação de um ego engajado em parceria com a personalidade, tendo como palco
– para quem é artista – uma casa transitória constituída basicamente dos cinco
elementos engajados até em órgãos; e para os não artistas, também desse mesmo
modo edificada em temporal engenho. E onde está então a seriedade real?
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