terça-feira, 28 de maio de 2013

Ciclo da saudade III


Quisera eu poder chorar as minhas próprias lágrimas profundamente magoadas! Mas o líquido elemento que as segrega mal chega para levar pelas vias legais os elementos químicos a todo o reino, frente a seca nesta região sentimental, cuja fauna e flora precisam de líquido para alimentarem-se, mais que eu de lágrimas!
Chorasse muito e profundamente vertesse meu precioso líquido em lágrimas, grande falta faria ao sistema empobrecendo a minha régia residência; ou melhor, meu casebre humilde, que outrora ousei chamar de templo.
Casebre, templo régio, humilde residência não importa o estado, nela haverei de viver os meus últimos dias; e não julguem por últimos dias o ocaso de uma vida fútil, pois não é! “Os últimos dias” tiveram início tão logo o ar rasgou as vias aéreas do recém nascido, que aos prantos de queimação pulmonar anunciou a sua chegada... Ou largada para a contagem regressiva dos “últimos dias”.
Cronologicamente e por coincidência estou já muitos instantes à frente daquele (berro primo) e se o quereis mais claramente expresso, restam-me poucos dias, segundo confiáveis pesquisas sobre a expectativa de vida e vale para todos, quando concebidos sejam todos apenas máquinas de carne sustentada por ossos e movimentados por nervos...
Outra razão porque não tenha mais lágrimas deve-se ao fator economia de líquido, devido os muitos dias percorridos debaixo do sol a lapidar as pedras para não mais reterem qualquer coisa que chorada seja úmida.
Nem profundamente magoadas pela inocente e idiota justificativa da falta inevitável da juventude, que afinal nunca foi de verdade juventude, nesta zona planetária do sistema solar, nem por abundância de líquidos que não mais os há, mormente aqueles das emoções molhadas. Porque viver sendo um ato de absurda seriedade real em ação de um ego engajado em parceria com a personalidade, tendo como palco – para quem é artista – uma casa transitória constituída basicamente dos cinco elementos engajados até em órgãos; e para os não artistas, também desse mesmo modo edificada em temporal engenho. E onde está então a seriedade real?


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