CERTIDÃO
NEGATIVA
Sem
motivo e sem qualquer razão negamos-nos todos os dias, sem conceder ao outro um
menear alegre, sequer um simples sorriso! Quem nos dera como antes, tivéssemos poentes
dourados de conversas serenas embaladas pela natureza circundante! Hoje nem aos nossos olhos já um pouco cansados concedemos uma
agradável passada de vistas com as cores da esperança, de um simples menear de
cabeça, um gesto simples de aceno de mão! Que dirá, então, pontes metafísicas que nos levem aos braços
amigos de poentes dourados, ao entardecer calmo, de uma pacífica primavera
entre duas almas!
Sem
motivo e sem qualquer razão somos neste momento quase a negação absoluta um
para o outro, sem sabermos em nome do quê, nem de qual guerra saímos, tampouco
de qual majestade herdamos tal orgulho e sapiência, para de nós mesmos nos
apartarmos?
Num
breve piscar de olhos terreno, apagam-se todas as luzes dos nossos olhos, de
nossos ouvidos todos os sons... e a nossa presença animada vencida acusará desagradável
odor ao olfato dos presentes, se não houver em tempo oportuno sepultura, nem
mortalha digna!
Para
que olharmos, então, um horizonte ilusório de luzes douradas, onde só mesmo
pedras e árvores salvas da fúria humana tangem o relevo escuro quando já o céu
anoitece? Nem as aves estão mais por lá para nos homenagearem com seu canto!
Desce desesperançado o manto escuro e sem tardar apagar-se-á o horizonte distante,
restando-nos apenas a pobre mortalha, que é tolice a mortalha rica.
Sim,
talvez mortalha rica e pomposa só aos pobres de espírito convenha, sim, por que
fossem em vida milionários de pobrezas caríssimas, fúteis, mas muito pobres de
espírito vivendo de riquezas mortas! Celebremos,
então, à vida simples, à amizade e ao amor do olhar, à lembrança querida, à
presença ausente, ainda que diante dos olhos não ande a se mostrar!
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