sábado, 16 de fevereiro de 2013

CAVALGADA


Cavalgo solitário meu destino sem ao certo saber o que é um destino; ou mesmo o que é cavalgar. Sei apenas que é um ir solitário, porque vou só. Mas em essência não sei o que é ser ou ir só, interior ou exteriormente, nem dos plurais em coisas para alguém eu no singular compreendo OU SEI O QUE É.

As águas com outras águas não serão mais que águas e a mesma substância; nem vento com vento mais que vento só. É por isso que não estou triste por estar só e por não ser água nem vento, enquanto cavalgo sem saber a que cavalgo; mas cavalgo, sem saber se a mim o faço ou a outra forma fora de mim imaginária ou de um fantasma, ainda que de algum modo eu seja o cavalgado, enquanto um ou outro ente, pois que outra coisa além dessas hipóteses poderia eu cavalgar e ser cavalgado?

E enquanto eu sou eu e os outros eles próprios, vamos todos a cada um cavalgando; quando não alguém a si mesmo, alguma coisa de dentro ou de fora de si cavalga, mas inegavelmente algo de cada um cavalga em si mesmo, que de outrem é trágico e desonesto qualquer cavalgar, quando não espúrio; e, nos casos mais graves, crime de apropriação indébita.

Gostaria muito de numa forma romântica num eu qualquer meu cavalgar o vento, cavalgar as nuvens, voar pelo céu afora, livre enquanto estivesse dentro deste corpo pesado, que tanto me prenda ao chão. Não quando já o não tiver e suponho seja nessa altura leve, na hipótese de que o corpo é que me pesa agora.

Todos os veículos de comunicação com os quais posso ver e ouvir, falar, tocar e dizer, estão aqui. São aparentemente meus, os tenho e até eventualmente os exerço; mas continuo só e pesado e nem há como o não ser, pois se dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, caso tivesse dois para dividir o peso...

Eventualmente coisas ocupam espaços de outras, e até pessoas a cargos que não deveriam ocupara ocupam, e quando simulacros de estadistas cavalgam toda uma nação de burros... mas porque muito lutassem ao longo do tempo para o conquistarem conquistam-no; e sem o merecerem acabam promovendo tragédias; ou na melhor das hipóteses atrasos; e as nações e os povos vítimas desse acometimento trágico, é que arcarão com o ônus das perdas definitivas...
 
Só mesmo em tais circunstâncias essas coisas são coisas, mesmo que pessoas ocupem lugar de outras coisas; mas já agora não sei se a isto se lhe pode chamar cavalgar, porque cavalgar assim cavalgar-se-á indevidamente. Ocupar, alguns até que ocupam o lugar de outros, enquanto indivíduos, até mesmo cadeiras num parlamento sem saberem a nada parlar, que na língua Lusa é o mesmo que falar em parlamento, ou para-lamentar.

Todavia nunca é outro motivo que os move até esse estrado, senão usurpar muito bem as verbas de representação com fantasmas, gastos com dízimos custos, para nos próprios bolsos caber, recolher, subtrair e fazer desaparecer o degradante sobejado arrancado da alma da nação, e uma pequena parte, esta sim, destina-se à ração eterna do cavalo morto. 

E é tal, que se cavalga nas costas de outrem, e esse outrem é o tal trem do povo. Mas continua acreditando e votando e pagando a conta, tanto os dez ou vinte por cento de outrora e ora cem por cento da conta das contas em obras, e o restante, se restar um resto que não foi desviado, também esse o bolso deles engole e o faz desaparecer instantaneamente num passe de mágica, como a merenda escolar de “treze simbólicos centavos” e outros óbolos.

Belíssima maneira de cavalgar, essa mágica cavalgada não é! Pena não possa eu cavalgar nela para dessa cavalgada conhecer melhor! Evidentemente não para fazer desaparecer bens alheios nem benesses parlamentares ou cartões corporativos do executivo – aquele que executa, no sentido de puxar o gatinho coletivo - que o sabor apodrecido ofende já no primeiro momento as minhas narinas, e depois, minhas papilas gustativas, de modo que essa coisa jamais me ocorrerá pôr sequer o nome na boca, mas para ver de perto esses gatunos e cavalgaduras do alheio, ah sim cavalgaria!

É mesmo uma erótica curiosidade que me incita a imaginação para ver a cara dos cavaleiros noturnos, investidos de parlamentares e de executivos usurpando os bens públicos!

Mas cavalgar, como cavaleiro ainda eu vou cavalgando, mesmo que não saiba quem ou o que de mim em mim cavalga. O vento e as nuvens eu sei que não é, mas gostaria que fosse um sonho mais leve que este pesadelo do planalto parlamentar executivo central, na mesma escala e substância, e tudo mais das rezas e mentiras pesadíssimas que ao mundo fazem carga insuportável.

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