Telhado Ainda Gotejando Pelo Sonho
Para transformar o sangue em vinho bastasse alguém
beber tanto vinho quanto fosse necessário e expulsar todo o sangue do sistema! Mas
não! Bebê-lo-ia eu tanto se fosse possível e o pudesse, para deixar meu coração
vazio ou bêbado sem doer-me como dói tanto nesta manhã fria de intenso sol
ardente.
Sofre a alma as dores – o físico não, por não ser
este o seu penar nem sentir – nada sente o corpo, mas dói-me o coração; os
objetos do desejo a as filhas da emoção provocam-me tais sensações somáticas, até
um pouco amargas, e por isso injustamente leva o pobre corpo toda a culpa sem
culpa alguma ter, feito burro de carga suportando as espetadas; mas ainda bem, só
ilusoriamente as sente.
A ignorância faz-nos sofrer dores e todas as
confusões em que entramos, quando deixamos de ouvir os órgãos sensoriais
internos.
Da minha alma tenho apenas o sentimento do
desligamento de mim mesmo, como se ela fosse independente do todo que eu sou.
Mas não perdi a consciência de ego completo; mas ainda assim dói-me a alma e
nem o vinho poderia expulsar o sangue para deixar meu coração vazio ou bêbado.
Talvez o fel amargo nesta manhã seja a única coisa que
eu posso saborear. Conquanto ainda respire o hálito vital e eu viva, e é isto que
me retém preso ao chão. E reafirmo estas coisas para mim mesmo sem qualquer
prova ou ciência, apenas porque respiro.
E me basta respirar. Vivo porque respiro. Mas porque saberia que
respiro? Pela ardência pulmonar! E porque essa ardência pulmonar? Por talvez
longos anos feito um tolo alegre andasse por aí a fumar!
Mas, e a dor do coração? Bem, como ainda há pouco
fazia frio de arrepiar em pleno sol escaldante, num instante a temperatura
baixa subiu e a alta baixou ao nível de uma olhar na outra na horizontal, e o
coração sossegou, de repente.
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