sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

DESCONCERTO


SAUDADE
Lembro com grande melancolia daquelas remotas manhãs. Lá por volta das nove horas e em torno dos sete anos preguiçosos, me estirava na cama da infância inocente.

E ali repousado de alma e de espírito contemplava pela janela o clarão do sol ainda ameno, mas caminhando já para o meio dia, quando se empinaria abrasador.

Quando àquela altura eu ainda criança e ele bem distante brilhando suave refletia-se nas videiras primaveris da aurora da minha vida, ainda sonhava.

As uvas, verdes, entremeadas de raros vagos pintados de negro, deliciosamente doces e maduros, atraiam-me para si e eu volitava em torno delas como as abelhas à procura do néctar.

Ah, porque o tempo não parou ali ou não volta e fica eternamente lá? Aquele frescor de aroma suave traz-me agora a boca amarga e o coração magoado e triste.

Ah, doce enlevo da minha infância tão rica de singelas paisagens de suas inocentes esperanças!

De que hei de servir-me hoje para lá voltar? Qual transporte metafísico ou de levantado ânimo hei de servir-me?

Pelas vias noturnas do astral sempre para lá retorno, mas nem sempre é manhã no sonho nem aí é já o meu lugar!

Mas ainda hei de matar em mim o pensamento adulto, hei de sim para inocentemente renascer criança nesse porto infantil só meu!

Hoje, que pena! Nos portos inocentes desabam no cais hostil às primeiras horas da manhã todos os sonhos!

 Tão logo se abram os olhos, com estrondo tremendo nas ruas se jogam carretas de pedras em nossos ouvidos!

Com tamanho abalo, já frágeis os alicerces do nosso íntimo abrem-se em fendas profundas e perdemos o nosso chão!

Nesse momento fecham-se os olhos e fugimos de volta ao ninho pra sonhar aquele remoto tempo deitado na cama da inocência, quando o sol ainda tímido vinha pela manhã.

Ainda o cheiro de plástico queimado não havia contaminado o ar, nem o sol da tarde aos anseios temerosos da vida tinham abalado a razão.

Ainda as notícias frescas e virulentas da hora não haviam ido ao ar, nem os vilões se levantado, que à noite de embriaguez na farra com o dinheiro do povo se estendera madrugada adentro, até o dia amanhecer.

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