sábado, 22 de dezembro de 2012

A PALAVRA


Poderia dizer outra coisa, em vez desta, que digo agora, poderia até não dizer nada.
Livre arbítrio relativo até aí eu tenho, e o que dizer, mesmo não tendo o que dizer

Ainda assim escrevo isto que não é nada.

A palavra é um instrumento perigoso na boca de um guerrilheiro falante, mas pode ser também um milagre e salvar vidas, salvar situações, evitar tragédias, provocar confusões.

A palavra pode muito e não custa nada, por enquanto. Querem-na oficializar com modelo de Estado via instituto oficial de uns supostos mandatários que desejam regular a voz, normalizar a palavra oficial da imprensa livre, num primeiro momento.

Depois e aos pouquinhos aparando daqui, aparando dali e pronto: a palavra será numerada, pesada, com números pares e ímpares de letras, conteúdo, regras, até que no momento seguinte só se fale o que convier ao sagrado grupo, para finalmente só se falar o que sair da boca do supremo líder.

A primeira vantagem surge logo no inicio com certa economia de combustível pela queima dos livros, que serão queimados todos os livros e nunca mais serão impressos outros, dizem eles entre si justificando, até o momento apoteótico da fala da voz única, quando se imprimirá o único livro com a palavra do supremo líder no modelo absoluto da palavra final.

Os primeiros ensaios já foram feitos em algumas repúblicas socialistas, mas fracassaram todos devido à criatividade do povo e suas fugas geniais em busca de liberdade de expressão.

Mas parece que há na América do Sul um país que deseja experimentar esse modelo.
Fala a mesma língua que eu falo neste instante, mas também está fadado ao fracasso, devido os motivos ocultos que movem esse grupo.

Falta base ética, honestidade intelectual, e os objetivos centrais são criminosos, pois querem se apoderar também da alma do povo, e não se contentam com as riquezas materiais, que desviam compulsoriamente.

O sonho de regulamentação da palavra, pelo visto não será muito fácil. O povo tem mecanismos de defesa naturais, que até instintivamente impõe aos seu carrascos.
 
De modo que a palavra é perigosa, também contra os perigosos supostos usurpadores dela.

Para terminar esta prosa breve, por não ter nada que dizer, apenas reafirmo a certeza de que a palavra é absolutamente anti-tutela, e não será um grupo completamente destituído de moral que a regulará em qualquer forma, principalmente na imprensa livre.

Não, mil vezes não. Eles não sabem de nada. A palavra nasce no silêncio, cresce de volume e se revela finalmente como expressão da alma humana.

Não, mil vezes não. A alma humana indevassável por natureza não poderá ser aprisionada pelas suas asas. As asas são as palavras e então esses sonhadores mercenários não poderão jamais se apoderar da palavra alheia.

Não, mil vezes não. Nem sequer a boca em cujo céu reverbera o som pode ser calada. O mudo em silêncio eterno pensa em palavras e as sua asas são ocultas.

Se então nem a alma de um mudo pode ser tomada pelos mercenários da palavra, como a de quem fala pode ser tutelada? 

A metafísica da alma humana é a voz do silêncio, e o som supremo é a voz da palavra viva.

Não, mil vezes não pode ser regulada, nem aprisionada a alma que tem como asas a palavra e a voz como expressão do som.

Mas pode ser extinta a espécie se um bando de celerados resolver deflagrar uma guerra atômica, mundial, ou um astro errante colidir com o planeta e não sobrar ninguém.

Por decreto e ditadura não, mil vezes não conseguirá escravizar a palavra nem calar a voz da alma.

Para chegar a esta conclusão nem precisava dizer nada, e foi em razão da obviedade que
eu disse no começo que não tinha nada para dizer. 
 
E o que mais então eu poderia dizer? Nada! Talvez que a ciência individual do homem se desenvolve no silêncio, e quero acreditar que há uma ciência individual, e o medo é o grande mestre, o grande senhor das idéias que se tornam palavras e por fim se externa a alma, mesmo que em silêncio fale com os olhos, mesmo com os olhos fechados, pense.

5 comentários:

  1. Julio,

    O Para. abaixo ficou tão bonito que até poderia vir sozinho.
    "E o que mais então eu poderia dizer? Nada! Talvez que a ciência individual do homem se desenvolve no silêncio, e quero acreditar que há uma ciência individual, e o medo é o grande mestre, o grande senhor das idéias que se tornam palavras e por fim se externa a alma, mesmo que em silêncio fale com os olhos, mesmo com os olhos fechados, pense."

    Obrigada pelo Post.
    Boa Sorte, Norma

    P.S.: Sdd de vc no Dharmalog. Agradeci a você (entre outros) lá, as 'limadinhas' recebidas.
    (^.~) Nac♥

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  2. Norma, obrigado eu. Viu como os olhos falam, os seu olhos?

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    1. Julio,
      Acho que agora entendi o s/coment.
      Precisei mudar o meu avantar p/falar c/familiares e esqueci que qdo muda p/um Blog muda em todos.
      Era s/o avatar, certo?
      Boa sorte, Nac♥

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  3. O siLêncio, Norma, o silêncio de seu olhar metafísico para além do Avatar rsrsrr

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