sábado, 3 de novembro de 2012

RETICÊNCIAS II


 



          Se a cantar que é cantar se chora, como se não há de chorar quando realmente se chora por estamos tristes e dolorosamente sofremos?

Quando a cantar é isto, de sofrer, supõe-se que se pode morrer de tanto chorar quando sofremos! E sem sabermos por que sofremos tanto assim, também por que em vez de se beber um bom vinho da melhor safra, bebemos qualquer vinho ruim?

Se guardarmos as piores castas de uvas jogando fora o melhor da vida, se de nós desprezamos o fruto da árvore da boa geração, evitamos a boa convivência e a boa educação que ao fim é a essência das coisas, por que tememos a maçã proibida?

Desprezamos o beijo da mulher amada, à melhor bebida e chorando em vez de bebê-la não damos alegre sentido à lida: e então o bom queijo e a boa maçã, a flor e a melhor comida? E por que a alegria e o prazer desprezarmos, embebidos em tragédia de inúteis quimeras de nossas agonias?

Rimos sem graça nenhuma à noite, e como pobres desgraçados, sozinhos, no dia seguinte choramos como as crianças abandonadas!

E então? Se a cantar choramos, como haveríamos de rir quando sofremos? Pobres e desatinados, cegos, insanos a sofrer os nossos desenganos, por que afinal riríamos quando deveríamos chorar aos cântaros pelas desgraças em que votamos?

E isto tanto ao dia quanto à noite, no certo quanto no incerto, mas no sincero não, que não há gesto sincero de nenhum que se apresentou para ser votado, nem nenhum voto que se deu foi honrado!

Mas continuamos rindo mesmo depois que sufragamos a sorte do povo na mesma garrafa que jogamos fora com a melhor bebida às gargalhadas, quando aí sim, deveríamos chorar!

Andem em letras ou iletrados, não tenha vergonha na cara o cara, é assim que à pior das castas guardamos e ora a melhor da espécie jogamos fora; tanto na urna virtual quanto na eletrônica. Isto, porque, se a cantar é isto, imagine-se quando se chora?  

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