sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Com Respeito ao Filme Zen, segundo o Grande Mestre


Ainda meio às voltas com a inércia de que fui acometido, levantei hoje do útero astral e a primeira possibilidade de assistir esse filme, do maior Mestre Zen do Japão, muito bom, por sinal, mas ainda no meu universo mental reina um vazio de vontade, que nem a parcimônia budista preenche.

Há uma vaga lembrança da Mãe, sinto uma falta irreparável e a criança insiste em se esconder enquanto o sol se levantando vai afastando as nuvens.

Há um fio imponderável de continuidade como um gráfico de pequenos intervalos de responsabilidade e de abandono.

No fim, só um sentir: ora num lacrimejar de efêmera alegria, ora de profunda mágoa de impotência ante o desconhecido.

Mas o fio condutor mantém a lembrança da criação; e o Pai e a Mãe originais se confrontam bem embaixo, num pequeno ser mental sem eixo definitivo, nem sentir sossegado.

É quando surge inevitável pergunta:

E então homem, quem és?

Na paz vais lutando contra a inércia passiva que te prende à terra, ao útero da mãe e até a lembrança do leite quentinho, em tênue e remota memória te conforta na ilusão de que voltaste no tempo; ou então em guerra, quando nem sentes a dor das feridas que provocas e contrais, e segues numa constante contradição entre ser e não, até que ao soar a tua hora - é o que prometem os Deuses - te fundirás contigo mesmo na face luminosa do Pai e Mãe originais, sem as ilusões das sombras onde vagas meio perdido à espera de um milagre de que a mentira se faça verdade.

Mas não há verdade nem há mentira: só um caminho por onde adquires vestes que te protegem e prendem, ensinam, mas no fim do caminho terás de te desnudar completamente.

E então, a ideia semente original - Pai e Mãe - mergulhada na ilusão, depois de muitos Kalpas, vestes, mortes e ressurreições, cada pensamento e palavra num sem fim de idas e vindas voltarás ao seio original, se te não perderes pelo caminho; e a marca do pensamento e do sentir prazer e dor serão as faces lapidadas de tua alma.

Mas, por enquanto, ensinam os Mestres, nem na metade do caminho chegaste!

E então, já viste que a pedra deixou de ser pedra e agora em pedra outra vez convertida te serve de calçada?
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