quinta-feira, 9 de agosto de 2012

CICLO DA INDIGNAÇÃO



O MUNDO
Nunca desejei sucesso. Ensejo, todavia viver apenas do meu trabalho honesto, por andar a ser feito sem a mácula de imitador ou tradutor maldito. Mas já ao cair da noite sem que olhos dedicados e isentos a tenham visto, deixo minha obra a posterior reconhecimento.
Isto se ela guardar alguma essência que sirva à evolução de alguém! 
Caso contrário e não sirva para nada, que a queime e a destrua o fogo juntamente com esses meus fantasmas mentais que lhe deram forma antes de confeccionadas; e em cinzas reduza também minhas pessoais dúvidas quanto às animosidades e “malquerenças nelas expressas”.
Mas não é isto que ora escrevo meu pessoal testamento. É apenas qualquer um mais dizer entre outros tantos já ditos.
Há, entretanto tantos por dizer, que em desabafo íntimo contra o mundo injusto e tolo regido socialmente pelo homem é mais prudente calar.
De poder maior, a mídia miserável e voraz devora tudo sem cozer e joga na ciranda infindável de ilustrar fantasias e fatos do cotidiano através do noticiário, todas as sujeiras de um mundo real opostas aos preceitos sadios da natureza.
E, em nome do lucro e tantas leviandades quantas sujeiras são consumidas? Até em forma novelística, agredindo ora aqui ora ali os sete ramos da ciência, pelo maldoso uso de duas principais vias – religião e política.
Mas ainda as sete tônicas do conhecimento de algum modo um pouco se fazem presentes em maravilhosos ensaios de espírito.
Pena é que às vezes repousem num fundo escondidos ou sobrepostos por culturais impostos – quase filosoficamente excrementos da alma – frutos da pobreza humana de uns tantos fazedores de arte!
Mas quem sabe ande agora mesmo a verdadeira em brasas ardendo em fogo etéreo nas profundas cavernas a servir tragicamente de indispensável combustível à copia espúria?
Da falsa seus autores e falsos profetas têm nos atores, bons atores, a fonte de altíssimos lucros em muitas moedas e grandes famas – embora fúnebres. 
Para mim confesso jamais hei de querer semelhante fama nem dinheiro, de modo algum a qualquer coisa deste gênero quero perto de mim!
Quando chegar minha hora prefiro que meu corpo desça a cova fria, e vá livre minha alma céu afora onde ousou construir seu ninho e meu trabalho seja descoberto ou o queime o fogo.
Lamento profundamente não saber onde ser ou ir de espírito, e o mais que posso desejar é que paire sobre a alma, para sempre unido a ela.
E é isto muitíssimo sério para rir ou desdenhar de tal assunto, mas para muitos autores é quase impossível imaginar o que eu digo com meias palavras; e então se me lessem haveriam de rir.
Embora na verdade fale com dobradas palavras, que é como eu falo ou duplos vocábulos para ser mais claro!
Mas falar expressando literalmente meu pensamento sem vitupério e despido de vaidade, é o meu desejo mais íntimo. E, deste mais íntimo desejo é que translado este pequeno testamento crítico, antes do próximo berro abafado diante da primeira olhada lá fora ao desconcerto do mundo.

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