quinta-feira, 31 de maio de 2012

Texto Para Teatro



Dialogo com a plateia

E então, cada um de vocês, tem conferido a qualidade do SOL, que a HELIOBRAS tem fornecido e diariamente vende?
E da OXIGENOBRAS o AR, tem sido suficiente também para a noite toda? Tem sustentado o fôlego durante o dia e à noite?
Já no dia de hoje tirou cada um a sua garrafa do córrego, as rodas da carroça velha, a cama quebrada, o berço destruído, a fralda usada, a panela de ferro quebrada, o pneu velho, e acolá boiando, aquele cachorro morto?
Já a ELETROBRAS cortou a energia por não ter sido paga em dia?
Já à televisão ofereceu a oração e você riu ou chorou,
enquanto mentiam dizendo que é sim o não?   
Já a deus pagou com juros a divida atrasada pela licença de aqui andar?
Já adiantou o dizimo para depois da morte no céu entrar em triunfo?
Já fez o seu curso de anjo para derrotar e prender seu demônio cruel?
Também já bebeu cada um a sua cota de amargura ou o seu favo de mel,
Saciou a sua cota de sede, com a sua ração de água, com a sua medida de ar, com o seu pedaço de carne, sua côdea de pão?
E a cota de cerveja, de fumo, de feijão, de pensamento, a sua garrafa de emoção?
Ah, é claro a cota da cota que lhe cabe e pode comprar!
Se já acertou as suas cotas todas, muito cuidado ainda!
Acautele-se com os agentes que andam a vendê-las e com pressão e chantagens vem de todas as formas à sua porta e até pela televisão oferecê-las!
Acautele-se com esses vendedores bons ventríloquos!
E aproveite, enquanto de graça puder respirar!
Mas não tema! A vida real que pela via nasal se vai bebendo, e só essa vale a pena celebrar, é de graça, tendo vindo desde o início assim e ninguém a tira nem a dá a ninguém.
Embora haja quem jure de pés juntos que é o seu autor e diga que a fornece principalmente aos pobres, e passa mesmo por cima deles feito um trator quando contrariado, subtraindo-a de uma só vez com violência num golpe fatal, ou aos poucos com promessas mentirosas, ou bênçãos divinais e eternidades...
E há quem prometa até esticá-la, para depois da morte!
Mas enquanto há vida nessa interação vale um fundamento coletivo entre as pessoas:
Quem na hora difícil não estenda a sua mão amiga durante a vida, depois da morte não é preciso que ninguém nos toque, nem mostre o caminho.
Daremos conta de ir sozinhos! E nem haverá tempo de convidar ninguém! Portanto aspire cada um a sua cota de vida com a dignidade de ser único e absoluto senhor dela, e no outro respeite a sua individual parcela.

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