sexta-feira, 18 de maio de 2012

Prosseguindo...


SAUDADE II

                                                        
Aos saltos e sobressaltos tropeçando nas pedras do caminho, cheguei até estes meus anos de vida, perplexo. Observando as pessoas que passam por mim a distribuir alegria e doses generosas de civilização, reconhecei a minha absoluta insignificância, a minha falta de civilização e completa pobreza de bens, ante as riquezas gritantes ao pescoço de ouro e nas orelhas de diamante desses que passam exibindo seus reais signos de alegria.
E ao analisar a tão festejada felicidade dessas pessoas, pude medir meu senso social. E já completamente desanimado medi a distância que nos separa.
         E o mais grave é que além da distância também o meu nível é muito inferior ao dessas pessoas felizes! E em não havendo mais espaço para descer e absolutamente desconheça o destino para onde vá, me resta apenas subir.
         E eu subo de fato desta tragédia alguns degraus de humildade. Sim, humildade como a única coisa possível de extrair desta condição deplorável, para subir acima deste desassossego e viscerais atropelos de órgãos, decrepitude física, e já agora na mais grave pobreza e falta de alegria.
E é assim que essas pessoas logram vencer mais uma contenda que silenciosamente mantiveram comigo, e sem que eu desejasse pelejar tornaram péssimo o que já era muito ruim; e ainda se riem, conquanto seja temerário fazê-lo, devido á falta de higiene bucal, criando a aparência estética verossimilhante às hienas.
Mas nem precisa grande imaginação, um pouco dela e esses vencedores enxergar-se-ão bichinhos domésticos, desde que dispostos a olhar no espelho com os olhos abertos.
Mas como não vêem nem as próprias facetas das mazelas psíquicas, então riem muito! E até às vezes comemoram vitórias em partidas muito disputadas entre si! Depois saem às ruas cantando, festivas ou vão pela noite adentro em restaurantes elegantes com os amigos a distribuir amostras grátis de civilização e alegria, brindando com caros vinhos suas pobrezas estéticas, e até mesmo desfilando seus carrões importados com o “bem” nacional. E às vezes até aviões supersônicos e antiéticos! Isto sempre depois de um jogo qualquer, ou até mesmo após um mero estalo mental, espirro intelectual que tenham tido e um cifrão monumental.   
         Mas diante destas cenas, humildemente cada vez com menos dúvidas prossigo minha estrada peregrina em busca do desconhecido. Claro que fugindo deste conhecido e recalcado viciado giro circular, como foge o diabo da cruz!
       Pois eu tenho por leme e elo a eterna musa lusa e companheira palavra, nesta nossa nobre língua maviosa. E embora dela eu seja um rude amante, do alto de sua nobreza pacificamente eu e ela vamos juntos edificando o que julgo seja um embrionário termo crítico honesto.
         Pequeno, muito pequeno, mas porque o acalente com respeito e bom coração, representa alguma forma de verdade latente na mente coletiva.
         Talvez na minha prosa até germens de conceitos simples de justiça universal fraterna e bem querer contenha, talvez, ou alguma sombra conhecida por vários nomes: mas que muito bem lhe ficaria o nome consciência, ah esse nome lhe ficaria muito bem, lá isso ficaria! Ou até talvez uma sombra de espiritualidade, civilidade, enfim um relato existencial em que reine a paz, o amor e o embrião latente de um saber permanente e semelhante à fonte que o ensinou, que não distingue cor, sabor nem credo. 

4 comentários:

  1. "Pois eu tenho por leme e elo a eterna musa lusa e companheira palavra, nesta nossa nobre língua maviosa".


    e, saudade.

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  2. certamente... seria um dom de espírito?

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  3. Olá julio, modestamente um dom que floresce por atiçar da chama ( palavra flama) desperta o rítmo natural em acontecer, as criaturas, as coisas... o vestígio constroe-se da impressão e a leitura o aspecto perceptivo da expressão "tempo"; assimilada a medida que cerca-nos ou cercamo-nos e as letras são: amparo, instrumento e resgate em fragmentada passagem do tempo; palavra nem rastro, é caminho e motivação, é dinâmica de alcance ao ser. A língua além de registro, capta o pulso evolutivo.

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  4. Claudia, nasce como a água na fonte, mas a palavra é o símbolo
    que revela ou dá forma a isso que diz: no ritmo do acontecer às criaturas o dom da expressão de ideias e sentimentos. Mas curiosamente temporal, depois da separação dos sexos...quando Vênus nos mandou seus deuses, e então homens e mulheres fizeram-se. De cima para baixo forma-se no terceiro vórtice, que também curiosamente forma o VAU de passagem ao vórtice raiz, onde as gônadas promovem a perpetuação da espécie.Mas a saudade é um dom de espírito que remonta a essa lonjura, quando se inverteu a consciência que pairava e mergulhou na matéria. trevas portanto, e uma remota vontade de voltar ao paraíso perdido, que gerou a saudade, e o inicio da religião... do religare.
    Mas a palavra como arte em prosa e verso é admirável.
    Junto com a música é sem dúvida a mais bela expressão de arte divina.

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