SAUDADE II
Aos saltos e sobressaltos tropeçando
nas pedras do caminho, cheguei até estes meus anos de vida, perplexo. Observando
as pessoas que passam por mim a distribuir alegria e doses generosas de civilização,
reconhecei a minha absoluta insignificância, a minha falta de civilização e completa
pobreza de bens, ante as riquezas gritantes ao pescoço de ouro e nas orelhas de
diamante desses que passam exibindo seus reais signos de alegria.
E ao analisar a tão festejada
felicidade dessas pessoas, pude medir meu senso social. E já completamente desanimado
medi a distância que nos separa.
E o
mais grave é que além da distância também o meu nível é muito inferior ao dessas
pessoas felizes! E em não havendo mais espaço para descer e absolutamente
desconheça o destino para onde vá, me resta apenas subir.
E eu
subo de fato desta tragédia alguns degraus de humildade. Sim, humildade como a única
coisa possível de extrair desta condição deplorável, para subir acima deste
desassossego e viscerais atropelos de órgãos, decrepitude física, e já agora na
mais grave pobreza e falta de alegria.
E é assim que essas pessoas logram
vencer mais uma contenda que silenciosamente mantiveram comigo, e sem que eu
desejasse pelejar tornaram péssimo o que já era muito ruim; e ainda se riem, conquanto
seja temerário fazê-lo, devido á falta de higiene bucal, criando a aparência
estética verossimilhante às hienas.
Mas nem precisa grande imaginação,
um pouco dela e esses vencedores enxergar-se-ão bichinhos domésticos, desde que
dispostos a olhar no espelho com os olhos abertos.
Mas como não vêem nem as
próprias facetas das mazelas psíquicas, então riem muito! E até às vezes comemoram
vitórias em partidas muito disputadas entre si! Depois saem às ruas cantando, festivas
ou vão pela noite adentro em restaurantes elegantes com os amigos a distribuir
amostras grátis de civilização e alegria, brindando com caros vinhos suas
pobrezas estéticas, e até mesmo desfilando seus carrões importados com o “bem”
nacional. E às vezes até aviões supersônicos e antiéticos! Isto sempre depois
de um jogo qualquer, ou até mesmo após um mero estalo mental, espirro intelectual
que tenham tido e um cifrão monumental.
Mas diante
destas cenas, humildemente cada vez com menos dúvidas prossigo minha estrada peregrina
em busca do desconhecido. Claro que fugindo deste conhecido e recalcado viciado
giro circular, como foge o diabo da cruz!
Pois eu tenho por leme e elo a eterna musa
lusa e companheira palavra, nesta nossa nobre língua maviosa. E embora dela eu
seja um rude amante, do alto de sua nobreza pacificamente eu e ela vamos juntos
edificando o que julgo seja um embrionário termo crítico honesto.
Pequeno,
muito pequeno, mas porque o acalente com respeito e bom coração, representa alguma
forma de verdade latente na mente coletiva.
Talvez
na minha prosa até germens de conceitos simples de justiça universal fraterna e
bem querer contenha, talvez, ou alguma sombra conhecida por vários nomes: mas
que muito bem lhe ficaria o nome consciência, ah esse nome lhe ficaria muito
bem, lá isso ficaria! Ou até talvez uma sombra de espiritualidade, civilidade,
enfim um relato existencial em que reine a paz, o amor e o embrião latente de
um saber permanente e semelhante à fonte que o ensinou, que não distingue cor,
sabor nem credo.
"Pois eu tenho por leme e elo a eterna musa lusa e companheira palavra, nesta nossa nobre língua maviosa".
ResponderExcluire, saudade.
certamente... seria um dom de espírito?
ResponderExcluirOlá julio, modestamente um dom que floresce por atiçar da chama ( palavra flama) desperta o rítmo natural em acontecer, as criaturas, as coisas... o vestígio constroe-se da impressão e a leitura o aspecto perceptivo da expressão "tempo"; assimilada a medida que cerca-nos ou cercamo-nos e as letras são: amparo, instrumento e resgate em fragmentada passagem do tempo; palavra nem rastro, é caminho e motivação, é dinâmica de alcance ao ser. A língua além de registro, capta o pulso evolutivo.
ResponderExcluirClaudia, nasce como a água na fonte, mas a palavra é o símbolo
ResponderExcluirque revela ou dá forma a isso que diz: no ritmo do acontecer às criaturas o dom da expressão de ideias e sentimentos. Mas curiosamente temporal, depois da separação dos sexos...quando Vênus nos mandou seus deuses, e então homens e mulheres fizeram-se. De cima para baixo forma-se no terceiro vórtice, que também curiosamente forma o VAU de passagem ao vórtice raiz, onde as gônadas promovem a perpetuação da espécie.Mas a saudade é um dom de espírito que remonta a essa lonjura, quando se inverteu a consciência que pairava e mergulhou na matéria. trevas portanto, e uma remota vontade de voltar ao paraíso perdido, que gerou a saudade, e o inicio da religião... do religare.
Mas a palavra como arte em prosa e verso é admirável.
Junto com a música é sem dúvida a mais bela expressão de arte divina.