sexta-feira, 20 de abril de 2012

INCONSCIENTE





Pessoalmente sou uma imitação grosseira da vida de um deus, de algum modo falo imitando a palavra de um sábio, por ter sido sábio aquele que inaugurou a fala ordenada. E quando sou bondoso imito a santidade de um santo, que fundamentou no universo astral a santidade. (Acho que é mais ou menos isso.)
Mas compreendo hoje melhor do que ontem que a palavra não diz por si mesma muita coisa.  (Mas pode dizer tudo que se possa ouvir se houver ouvidos.)
Já o silêncio sim, poderá traduzir e talvez seja a única maneira de se perceber o que realmente existe como essência. Ainda que se trate de uma pálida sombra, de alguma limitada realidade.
Sim, o silêncio às vezes frio e cruel como um escuro ancestral, mas ante a fraca luz de uma lanterna mental brilham olhos de estranhos e pequenos animais, assinalados em nossa mente.
A lanterna é a nossa única consciência possível, dolorosamente iluminando os relevos de alguma coisa sólida, móvel e conhecida da triste realidade que nos cerca e mal compreendemos. Mas a natureza absolutamente desconhecida só se deixa observar e nós fingimos desvendar.
E se nesta fase de o dizer coloco a frase no plural, falo só por mim, envolvido no silêncio noturno da minha ignorância, porque não saiba nem tenha consciência pessoal do que seja a vida integral.
Vida de verdade e não mero conceito de um tradutor universal! Pois nem Cristo nem o sofredor Crestos que se manifestou em meu peito sem heroísmo se fizeram inteligíveis, ante essa incógnita, que os insensatos ousam largamente interpretar.
Imaginá-los e até ouvi-lo aos berros pelas ruas em distendidas eletrônicas asneiras anunciando a revelação desse mistério e a redenção de todos os males, causa tremendo espanto, que dependendo do momento, até gargalhadas!
Mas depois do espanto e já refeito do surto de burrice causado por tamanha potência desses gritos, compreendo nítida e cristalina a sua intenção. E o que pretendem se revela claramente nas promessas que fazem e nos produtos que oferecem.
E ao vivo carimbam com a sua marca forte de que até o sagrado silêncio está sujeito aos seus ataques repentinos, com ofensivas palavras!
E perante esses sons deixam de ter sentido as sentenças dos sábios, e não se tem mais como classificar a voz com a cadência e o ritmo da voz humana, que já pouco revela amiga e familiar.
Por isso é que sou mesmo a imitação da vida, se a dos falsos profetas for verdadeira.
Entretanto, como existe um meio termo entre todas as coisas marcado por um frágil ponto, nota-se já nele a raiz da esperança.
Sim, porque continuo existindo eu e continuam existindo eles. E é assim que eles e eu vamos a navegar nesta nave maior, mas já não tão grande que se não possa medir, pesar e contar-lhe o tempo de vida e até se pode parti-la aos pedaços!
Isto se for nosso entanto o de apenas com a carne alheia nos divertirmos. Pois, desgraçadamente ainda não compreendemos que mesmo que não pensem, todas as outras espécies instintivamente vão a fugir de nós. E por que fogem de nós?   

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