Pessoalmente sou uma imitação grosseira da vida de
um deus, de algum modo falo imitando a palavra de um sábio, por ter sido sábio
aquele que inaugurou a fala ordenada. E quando sou bondoso imito a santidade de
um santo, que fundamentou no universo astral a santidade. (Acho que é mais ou
menos isso.)
Mas compreendo hoje melhor do que ontem que a
palavra não diz por si mesma muita coisa. (Mas pode dizer tudo que se possa ouvir se
houver ouvidos.)
Já o silêncio sim, poderá traduzir e talvez seja a
única maneira de se perceber o que realmente existe como essência. Ainda que se
trate de uma pálida sombra, de alguma limitada realidade.
Sim, o silêncio às vezes frio e cruel como um
escuro ancestral, mas ante a fraca luz de uma lanterna mental brilham olhos de
estranhos e pequenos animais, assinalados em nossa mente.
A lanterna é a nossa única consciência possível,
dolorosamente iluminando os relevos de alguma coisa sólida, móvel e conhecida
da triste realidade que nos cerca e mal compreendemos. Mas a natureza
absolutamente desconhecida só se deixa observar e nós fingimos desvendar.
E se nesta fase de o dizer coloco a frase no plural,
falo só por mim, envolvido no silêncio noturno da minha ignorância, porque não
saiba nem tenha consciência pessoal do que seja a vida integral.
Vida de verdade e não mero conceito de um tradutor
universal! Pois nem Cristo nem o sofredor Crestos que se manifestou em meu
peito sem heroísmo se fizeram inteligíveis, ante essa incógnita, que os
insensatos ousam largamente interpretar.
Imaginá-los e até ouvi-lo aos berros pelas ruas em
distendidas eletrônicas asneiras anunciando a revelação desse mistério e a
redenção de todos os males, causa tremendo espanto, que dependendo do momento, até
gargalhadas!
Mas depois do espanto e já refeito do surto de
burrice causado por tamanha potência desses gritos, compreendo nítida e cristalina
a sua intenção. E o que pretendem se revela claramente nas promessas que fazem e
nos produtos que oferecem.
E ao vivo carimbam com a sua marca forte de que até
o sagrado silêncio está sujeito aos seus ataques repentinos, com ofensivas
palavras!
E perante esses sons deixam de ter sentido as
sentenças dos sábios, e não se tem mais como classificar a voz com a cadência e
o ritmo da voz humana, que já pouco revela amiga e familiar.
Por isso é que sou mesmo a imitação da vida, se a
dos falsos profetas for verdadeira.
Entretanto, como existe um meio termo entre todas
as coisas marcado por um frágil ponto, nota-se já nele a raiz da esperança.
Sim, porque continuo existindo eu e continuam
existindo eles. E é assim que eles e eu vamos a navegar nesta nave maior, mas já
não tão grande que se não possa medir, pesar e contar-lhe o tempo de vida e até
se pode parti-la aos pedaços!
Isto se for nosso entanto o de apenas com a carne
alheia nos divertirmos. Pois, desgraçadamente ainda não compreendemos que mesmo
que não pensem, todas as outras espécies instintivamente vão a fugir de nós. E por
que fogem de nós?
Nenhum comentário:
Postar um comentário