domingo, 6 de novembro de 2011

RESIDÊNCIA RÉGIA




Dignifiquei minha residência com um mínimo de conforto desde os pés até o teto, este em forma de pequena cúpula e coberto de fios finíssimos do tipo cabelo, e por dentro procurei manter o suficiente de energia para alimentar a chama acesa e a temperatura adequada a um ambiente agradável, atualizado com as novidades da comunidade, vizinhança em comunhão pacífica, cidade, estado, nação e sistema solar...

Mantenho neste conjunto órgãos, vísceras, rede de irrigação, rede de comunicação, rede de excreção e todas as vias necessárias ao transito de um imóvel particular, que o arquiteto principal construiu em série e a mim este confiou.

Nem sempre é possível mantê-lo bem ventilado por dentro, que as tempestades de vento e as intempéries emocionais têm-no assolado com poeiras de toda a espécie.
Tanto as partículas concretas, quanto as imateriais obrigam-me a fechar portas, janelas e até às vezes a apagar a luz, para evitar a invasão de algum estranho indivíduo que por trás do vento se esconda nas sombras, e até às vezes atrás do som e das palavras!

E antes que me esqueça de algum detalhe de minha residência que queira explicitar, lembro as duas novidades acrescentadas já há alguns milhões de anos às construções, e que constituem verdadeiramente aos sentidos vivos da residência as antenas, com as quais se liga ao exterior, vê, sente e do mundo a algumas já distingue, dentre outras.

Representam um estado fundamental, por tratar-se das causas que dentre muitas qualidades e predicados a de estar na posição ereta, em duas únicas pilastras sustentadas obram tal milagre, cujo movimento e deslocação a diversos lugares as levam, inclusive quando em parceria com outras espécies de objetos externos móveis e artificiais deslocam-se a lugares longínquos, e até pelos ares já com elas podemos voar!

Considerando as condições climáticas e ambientais, e a energia que mantém e rodeiam cada residência, excluindo o fator luxo e estético de algumas diferenciações, o fato de possuirmos uma casa, mesmo sendo absolutamente temporal e relativa a uma existência breve, é motivo de júbilo, orgulhoso sentimento pela oportunidade única de habitar este belo planeta, dentro dela.

E estar aqui habitando uma destas casas é o bastante, cabendo a cada um manter a sua qualidade, a gerência e a longevidade. Considerando ainda a nossa origem não ser totalmente terrena e as substâncias de renovação e sustento de nossas casas extraídas do solo do planeta, nos tornam também já um pouco universais.

Muitas técnicas de conservação e restauração foram desenvolvidas ao longo do tempo, mas ainda uma boa ventilação e matérias de consumo naturais, o melhor procedimento que se deve manter. E esta arte, a mais bela de se exercer, devido a arte em si descer ao fundo do poço e aí se encontrar sufocada pela mídia e entregue a um órgão subjetivo, que por amostragem mede o seu fator rentável.

E nesse medir acaba determinando o que cada casa deve consumir como arte, alimento físico, psíquico e de espírito, num verdadeiro assalto ao ente real e senhor da casa, que deveria ser também o senhor de sua vontade, mas nem isso lhe é permitido.

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