domingo, 24 de abril de 2011

A saudade revive imagens mais ou menos como essa. Fosse esse equilibrio possível! Mas não é, nesta dimensão.



SAUDADE

Lembro com grande melancolia daquelas remotas manhãs, lá por volta das nove horas e em torno dos sete anos, preguiçosos, quando me estirava na cama da infância inocente.

E ali repousado de alma e de espírito contemplava pela janela o clarão do sol ainda ameno, longe do meio dia quando se empinava abrasador.
Àquela altura, eu ainda tenro e ele distante brilhava suave, refletindo-se nas videiras primaveris da aurora da minha vida.
As uvas, ainda verdes, já apresentavam vagas pintando vagos deliciosamente doces e maduros.

Ah, porque o tempo não parou nessa estação ou não volta e fica eternamente por ali? Aquele frescor de aroma suave traz-me agora a boca amarga e o coração magoado e triste.
Ah, Doce enlevo da minha infância pobre, tão rica de singelas paisagens e inocentes esperanças!

De que hoje hei de servir-me para lá voltar? Qual transporte metafísico ou de levantado ânimo físico hei de tomar?

Em sonho sempre retorno, mas nem sempre é manhã no sonho, nem lá já é o meu lugar!
Ainda hei de matar em mim o pensamento adulto, hei de sim, para inocentemente renascer criança nesse porto infantil só meu!

Hoje, que pena! Os portos inocentes desabam nas primeiras horas da manhã, tão logo se abram os olhos e os estrondos das ruas soltam carradas de brita em nossos ouvidos, abalando os alicerces do nosso íntimo, abrindo fendas profundas em nosso chão!

É melhor então sonhar inocente aquele remoto tempo deitado na cama da inocência, quando o sol ainda tímido vinha pela manhã.
Ainda o cheiro de hoje o plástico queimado não havia contaminado o ar, nem o sol da tarde aos anseios da vida não queimara a razão.
Ainda as notícias do dia de hoje não haviam ido ao ar, nem os vilões se levantado, que à noite a farra com o dinheiro alheio se estendera madrugada adentro, até o amanhecer.

3 comentários:

  1. A Arte brinca com as possibilidades do equilibrio.
    Mas na realidade o máximo que se consegue é seguir em frente em cima de duas pernas, apoiadas em dois pés um pouco projetados à frente.
    E numa só quando se quebra genial esse desequilibrio e retoma em seguida, em cada passo.

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  2. No mundo de hoje, o sonho é, sem dúvida, a única salvação. Sonhemos, pois ! ...

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  3. Enquanto for possível, sonhemos, pois!

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