quarta-feira, 12 de maio de 2010

OS CÍNICOS

Diógenes, e talvez antes dele os nobres e místicos, seguidores dos Vedas, já exercitava a teoria da libertação, pelas vias do desapego.

Desapego, em Sânscrito tem o bonito nome: MOKSHA. E não é de estranhar se todas as teorias libertárias, vindas depois, sejam plágios daquelas velhas doutrinas, muito bem fundamentadas pelos seus criadores, que viveram, efetivamente, o que em tese enunciaram.

Prova o exemplo, quando numa fria manhã, Diógenes, sentado ao sol na frente de sua tina, dali se aproxima o seu amigo Alexandre, o Grande, e lhe perguntava arrogante: - o que posso fazer por você, meu amigo? E Diógenes, olhando-o debaixo para cima, respondia: “não me tires o que não podes me dar”! Naquele momento, o Grande Alexandre colocara-se à sua frente, tampando-lhe o sol; e apesar de Grande, o sol não lhe poderia dar.

Esta passagem merece profundas reflexões, e uma análise séria, em relação os modernos libertadores!

Afinal, não se conhece nenhum libertário moderno que viva numa tina, de madeira, cujos bens, apenas a túnica e um embornal, para carregar o seu farnel!

Ao contrário, alguns vivem no supremo luxo que o dinheiro sofista pode comprar, e longe de qualquer virtude humanitária e desapego. E naturalmente muito distantes do real conceito de libertação. Ou será possível alguém se libertar das coisas materiais acumulando títulos e dinheiro?

Não, não é possível, mesmo que tenha por trás um famoso frei sociólogo, ou quem dê prioridade às suas convicções ideológicas, camufladas de teológicas, que até os dias de hoje não se tem noticia de ninguém que agisse dessa forma em beneficio do outro, e não de si mesmo. Portanto não cabem em nenhuma doutrina de libertação.

Já por outro lado são do conhecimento de boa parcela da sociedade as formas filosóficas e doutrinas iniciáticas, sérias, fundamentarem-se no desapego de todas as naturezas, inclusive políticas.

Todavia as suas ações e sentidos estão voltados para a causa das causas, cujo nome pode ser até Deus a quem servir só é possível servindo a humanidade.
E qual seria a razão do apego ter um nome tão feio, TANHA? Enquanto MOKSHA, um termo tão bonito, na mesma língua sânscrita?

Mas um homem libertador de si mesmo há de libertar-se antes de tudo da compaixão ao próximo, que nas profundezas da alma será compaixão por si mesmo, e não pelo outro, embora semelhante afirmação não seja compreensível no primeiro momento.

Mas um verdadeiro desapegado também não é um frio intelectual, indiferente ao meio aonde viva. Senão um profundo amoroso que não mais consegue distinguir o rico do pobre, branco do negro, dia da noite etc., consciente de que o outro é agora parte de si mesmo, portanto ligado ao todo através de si e ele através do outro.

Deve soar estranho, no primeiro momento aos ecumênicos; mas também é compreensível, porque eles vêem Deus uma espécie de magia dogmática, enquanto crença milagrosa que pode ser encontrado até numa prateleira, ou modernamente num arquivo.

Mas Ele é a semente da realização pessoal física e metafísica, muito clara na exortação do Cristo aos seus discípulos, para que eles buscassem a consciência do Inefável “Eu Sou”, na bela Obra PISTIS SOPHIA, quando diz: “Ele conhece o mistério por cuja causa as trevas foram feitas e por cuja causa foi feita a luz”...

É natural que o Cristo durante a sua realização pessoal tivesse tido a visão de Deus em todas as coisas: “trevas e luz”, independente de qual seja a cor, credo, condição social, bem ou mal, agradável ou desagradável...

E assim é que deve ser visto num conceito superior de inteligência, por um estudioso, reunindo elementos Teosóficos das mais diversas correntes do pensamento teológico e científico universais.

Isto não é possível a nenhum pesquisador que despreze uma única vírgula, de qualquer fonte de pesquisa. O que, para o crente de uma religião é humanamente impossível.
A não ser um iluminado, que vê Deus em tudo, mas este ser tão especial não anda por aí com nenhum livro na mão dizendo que deus está ali, e só ali está escrita a sua palavra.

Pois certamente se ele não estiver em todos e muito especialmente vivo nos miseráveis de pão e famintos de conhecimento, menos há de estar num papel impresso, pouco importa o nome do livro, pouco importa quem o livro traga debaixo do braço.

Diógenes, o Cínico – canino em Grego e Kepler – o cão pardieiro devido à vida de cães que levavam, são entre alguns outros dessa estirpe um exemplo de como os buscadores de Deus modernos, em luxuosos edifícios instalados criam teorias da libertação que não devem ser levadas a sério em uma única palavra, que disserem e escreverem.

Apesar de muito modernas, moderníssimas até, as suas teorias! Mas o que estes ídolos escrevem, porque entre no processo da escrita o seu pessoal e humano raciocínio maculado com uma gama variada de concepções individuais acadêmicas ou ideologias misturadas com teologias, o melhor destino que se lhes pode dar enquanto livros é o fogo, caso não tenha sido possível evitar a asneira de havê-los comprado.

Ainda bem que existem alguns poucos, mas verdadeiramente magníficos livros! Porque ainda presentes estão por aqui Diógenes, Platão, Hermes... e na poesia entre uns poucos mais Camões e alguns modernos e sérios pensadores e poetas...

Para não cometermos o erro de afirmar que o passado é que era bom, e o presente uma farsa!

O que urge então, antes de qualquer coisa é separar o lixo da real essência de todas as coisas de ontem e de hoje, para um amanhã mais sábio e justo, dando renascimento aos grandes seres, que por aqui andaram nos ensinando a caminhar e desejam voltar.

3 comentários:

  1. Ah,como é bom ler coisas sábias...

    Que dizer?

    Continue amigo....não pare não!

    Beijinhos.

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  2. Uma prosa de grande Sabedoria,e de grande reflexão,concordo em parte.
    Não gosto de utilizar o termo Compaixão,prefiro,Fraternidade,de qualquer forma,há quem sinta compaixão(pena)discordo e compaixão(amor ao próximo)concordo,neste caso já engloba,respeito,fraternidade,solidariedade,etc,
    na primeira compaixão que menciono,é pena de si próprio,na segunda é compaixão pelo outro!
    Não concordo muito com os filósofos,pelo menos com alguns e Diógenes,exagera!Meu lema,é ler,aprender,mas seguir sempre o meu raciocinio.
    Na sua maioria,os intelectuais são frios e indiferentes ao meio em que vivem,muito poucos se inserem na categoria de um profundo amoroso.Posso estar errada,mas é a minha visão.
    É fácil falar de desapego,por quem tem tudo,até demais por vezes.Há muita forma de desapego,falem de desapego a quem se senta á mesa tendo em frente um prato vazio,ou a conta a do banco a zeros e as contas se acumulam para pagamento...
    Há várias possibilidades de desapego em tudo até no amor,mas duas coisas são enssênciais em todas elas,a consciência e o respeito,sem isso,nunca haverá desapego.
    Concordo totalmente,quando diz no final da prosa:

    "O que urge então, antes de qualquer coisa é separar o lixo da real essência de todas as coisas de ontem e de hoje, para um amanhã mais sábio e justo, dando renascimento aos grandes seres, que por aqui andaram nos ensinando a caminhar e desejam voltar"

    Sem dúvida!Muito mais haveria por dizer,sobre o que escreveu,mas fico-me por aqui

    Fraterno abraço.

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  3. Maravilha, amigas!
    Maravilha de amiga, Ilustríssima Dolores de amor e bondade à flor da pele. Obrigado amiga.

    Maravilha de amiga Ana, guerreira, pensadora, altiva e ela mesma. Obrigado amiga.

    sendo que os predicativos de uma se aplicam a ambas rsrsrsr

    Quanto à prosa, desapego e compaixão o exemplo supremo seria nas condiçõeso em que se encontrava Jeoshua e o perdoai-os Pai, que eles não sabem o que fazem.
    Diógens não era extamente desapegado em si, mas despojado tendo na virtude do conhecer o foco absoluto, e ao final o preço, pensando bem não era tão alto, imaginando o prazer ao desvendar o novo das ideias.
    Aqueles a quem falta até a comida, certamente teem no lado oposto aqueles...que citá-los pressupõe serem da nossa espécie, mas dela só mesmo... a forma.

    Frateno abraço amigas, e muito obrigado pelas presenças.

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